"Se você é jovem ainda
Amanhã velho será
A menos que o coração sustente
A juventude que nunca morrerá."
No ínicio a "mulé" foi quem nos deu o gás pra começar o dia.
Infelizmente, depois disso, não achamos mais "muleres". Nos vimos
cercadas por homens. Certo momento eram 4 e depois 5. Disse
"infelizmente" por que é inevitável se sentir acanhada ao redor de
muitos homens. o corpo que era vivo morre, dando lugar a autodefesa; se escora
na parede e cruza os braços; fica atento a possíveis "liberdades".
Sim, esperamos assédios mesmo dentro de um HOSPITAL. Na verdade é algo bem normal corriqueiro no nosso trabalho de clown no
setor. E ainda tenho que ouvir coisas como "cultura de estupro não existe".
Mas apesar do receio, deu tudo certo (acredito que graças ao
"receio").
No último quarto, encontramos um fã do Chaves, aquele programa que passa
há 50 anos no SBT. Era o Seu José, que tinha uma miniatura do menino adorador
de sanduíche de presunto, a qual guardava com o maior zelo do mundo bem ao seu
lado. A acompanhante falou que foi o médico que lhe deu. Pensei "Seu José
devia ser alguém especial". Aos poucos, descobrimos o porque: ele adorava cantar. Foi ai que o quarto virou
um festival. Ele cantava de lá e nós daqui. Rolou sertanejo, Roberto Carlos e,
claro, Chaves. Apesar de não falar e não se mexer direito, pude sentir vida em
nele. A acompanhante era muito simpática e divertida, mas era perceptível o seu
cansaço; estava ali havia dois meses. Disse que Seu José era como uma criança,
que precisava de muito cuidado. O que eu senti, mais do que tudo, era que a sua
ALMA era de criança. E nós, como clowns, não poderíamos ter nos sentido mais inspiradas e saímos de lá um
pouco mais crianças também.
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