segunda-feira, 13 de junho de 2016

Toquinho de Geres - HU - 12/03/16

"Se você é jovem ainda
Amanhã velho será
A menos que o coração sustente
A juventude que nunca morrerá."


No ínicio a "mulé" foi quem nos deu o gás pra começar o dia. Infelizmente, depois disso, não achamos mais "muleres". Nos vimos cercadas por homens. Certo momento eram 4 e depois 5. Disse "infelizmente" por que é inevitável se sentir acanhada ao redor de muitos homens. o corpo que era vivo morre, dando lugar a autodefesa; se escora na parede e cruza os braços; fica atento a possíveis "liberdades". Sim, esperamos assédios mesmo dentro de um HOSPITAL. Na verdade é algo bem normal corriqueiro no nosso trabalho de clown no setor. E ainda tenho que ouvir coisas como "cultura de estupro não existe". Mas apesar do receio, deu tudo certo (acredito que graças ao "receio").
No último quarto, encontramos um fã do Chaves, aquele programa que passa há 50 anos no SBT. Era o Seu José, que tinha uma miniatura do menino adorador de sanduíche de presunto, a qual guardava com o maior zelo do mundo bem ao seu lado. A acompanhante falou que foi o médico que lhe deu. Pensei "Seu José devia ser alguém especial". Aos poucos, descobrimos o porque:  ele adorava cantar. Foi ai que o quarto virou um festival. Ele cantava de lá e nós daqui. Rolou sertanejo, Roberto Carlos e, claro, Chaves. Apesar de não falar e não se mexer direito, pude sentir vida em nele. A acompanhante era muito simpática e divertida, mas era perceptível o seu cansaço; estava ali havia dois meses. Disse que Seu José era como uma criança, que precisava de muito cuidado. O que eu senti, mais do que tudo, era que a sua ALMA era de criança. E nós, como clowns, não poderíamos ter nos sentido mais inspiradas e saímos de lá um pouco mais crianças também. 

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