domingo, 10 de maio de 2015

Marieta da Estampa, HUT, 06/05/2015

Boa noite, diário. Hoje ousarei em te dividir em dois momentos da atuação que aconteceram e eu sinto que preciso falar deles. 

Momento I: O início

Chegamos ao HUT em uma formação diferente. Do meu grupo, eu e Karol íamos atuar e Myh seria a observadora. Gui acabou atuando com a gente também e foi ótimo. Sempre tive vontade de atuar com ele. Começamos a noite bem: Marieta da Estampa, Josefina Perna Fina e Frederico Pau de Arara com nossos melhores olhares. Conhecemos seu Antônio, que por mais que eu tivesse achado que ele não queria nenhum contato conosco, me fez rir com todos os seus "ein?" "ãn?". Depois de muita conversa entramos em um quarto que mais pra frente contarei um "acontecido" no segundo momento do diário. Primeiro encontramos seu José. Ele, sentado na cadeira ao lado de sua esposa que estava hospitalizada, não tirava o olhar cuidadoso dela. Chegamos pra conversar e ele logo falou que eram casados há 51 anos. 51 anos! Me falou sobre como é difícil manter um relacionamento hoje em dia e me deu aqueles conselhos que você sempre recebe de um pai ou avô. Um amor de pessoa! Um pouco depois quando eu estava conversando com dona Maria, percebi que meu companheiro Frederico Pau de Arara estava sozinho conversando com uma senhora e o seu semblante parecia preocupado, daí, resolvi ir pra lá pra ver se eu poderia ajudar de alguma forma, e assim, vamos para a segunda parte do diário. 

Momento II: Impotência
Impotência
substantivo feminino
  1. 1.
    falta de poder, força ou meios para realizar algo; impossibilidade.

  2. 2.
    qualidade, estado ou condição de impotente.

Quando cheguei perto da cama, percebi que Joselma, filha de dona Maria, estava contando a Frederico sobre a luta que estava sendo a vida de dona Maria, que sofria de Alzheimer. Entre "opiniões médicas" e "palavras de encorajamento", notei que o lençol o qual dona Maria se cobria, era todo florido, como minha roupa. Nesse momento fui em busca do seu olhar pra talvez até comentar sobre essa coincidência, mas o que eu encontrei foi completamente diferente. Dona Maria, que estava usando uma daquelas máscaras para respirar me entregou um olhar assustado, que me passaram tantas coisas que chegava ser difícil segurar o seu olhar. Ela, que antes olhava atenta para a filha, passou a olhar fixamente pra mim. Por vezes tentei desviar o olhar com medo de desabar e ali mesmo começar a chorar, por vezes a vontade que tive foi de abraçá-la, e outras vezes a vontade era realmente de sair do quarto e baixar o nariz. Tudo já se confundia, Larissa e Marieta, choro e apoio. No fim das contas resolvi ficar. Eu passava a mão em seu pé por sobre o cobertor no intuito de mostrar que ela não estava só ali. Tentei fortemente fazer o que eu achava ser certo, apoiar, ser disponível pro outro, mas realmente não sei dizer se consegui. Aquele olhar conseguiu me desmontar de um jeito que nunca tinha acontecido antes. Um olhar de medo e suplica que parecia penetrar na minha alma e fazia doer lá dentro. Me fez pensar sobre as mais variadas coisas e refletir sobre a minha vida. Passou-se um tempo, nos despedimos de todos e logo "chamamos o ônibus" e fomos embora. Ao chegar em casa, chorei e comecei a refletir sobre o que havia acontecido naquele quarto e percebi que a gente deve tirar sempre um aprendizado das coisas. E é por isso que hoje, o meu núcleo do dia é a Dona Maria.
Dona Maria, a senhora está nas minhas mais sinceras orações.  



 

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