Querido e amável diário...
Hoje a noite foi marcada por
desencontros. Alguns erros de comunicação me levaram a atuar com outro
grupo.Agora, depois de toda a atuação, concluo:Nada nesta vida acontece por
acaso...(vocês entenderão o porque desta frase)
Josefina perna fina e Marieta da estampa foram minhas fiéis companheiras
neste noite com cara de clown...
Destaco, primeiro, a tentativa pífia de comunicação com Seu
Antônio.Confesso que ele não se sentiu envolvido por esta atuação. Nos deixando
ansiosos pelo diálogo que, depois, ocorreu, ainda que marcado por alguns
"An?", "Como?", "Um?".
Lembro com muito carinha de Seu José. Aquele Senhor tão simpático que
conversaria horas conosco. Ele, acompanhava sua esposa, casado há 51 anos. Sim,
51 mesmo. Que lindo! Ele, alí, do lado dela, cuidando da forma mais humana e
afetiva que há. O amor era nítido.
Por fim, finalizo com a história que, de longe, foi a que mais me
comoveu. Após ter me afastado um pouco dos outros pacientes do quarto,
deparo-me com Joselma..Quando pergunto se ela está bem recebo como resposta um
sorriso tímido de "sim, estou levando". Joselma acompanhava a mãe que
é portadora do Alzheimer, já em um estágio avançado.Dona Maria, sua mãe, tinha
olhos assustados. Ela, ali, quieta, coberta sobre um lençol de belas rosas
estampadas.Joselma,então,começou a contar-me sobre sua vida,sobre a situação e
a luta diária que travava...O processo de esquecimento que a sua mãe enfrentou
decorrente da doença.Não deve ser fácil você ser "esquecido" por aquela
pessoa que você mais ama. Me pus no lugar de Joselma e quis chorar...A incrível
força dela é admirável. Ainda que, segundo ela, muitos médicos já tivessem
"desacreditado" que sua mãe resistisse por mais tempo, ela estava
lá...Doando-se integralmente. O amor era nítido. O carinho dela ao proferir
"Olha, bebê, sorri para o moço" para Dona Maria me cativou...A
compaixão me invadiu.Quis sair daquele quarto. Eu, particularmente, já estava
"frágil" diante a situação em que me encontrava.Mas fiquei. O meu
coração me pedia par que eu ficasse.Ouvi até o fim.E, quando minhas
companheiras, presenciaram aquilo e viram que a emoção já estava à flor da
pele, instantaneamente, tentaram reverter a situação para que saíssemos dali.
Por fim, abracei Joselma e fiz o que, naquele momento, eu poderia fazer:
Disse-lhe que tudo ia dá certo e que Deus iria interceder por sua mãe...
A sensação de "impotência" foi a mais frequente pós
atuação...Queria ajudar mas, infelizmente, não podia fazer nada. Ofereci o que
me era acessível: os meus ouvidos, as minhas palavras e o meu abraço.
Josélia, Dona Maria me fizeram abandonar Frederico Pau de Arara por uns
instantes e ser eu, Guilherme, da forma mais disponível. Me fizeram repensar
sobre a minha própria vida.
Fica comigo a lembrança mais nítida de amor, afeto,
cuidado,atenção,carinho naquela atuação.
De fato, nada nesta vida acontece por acaso.
Que Jesus possa interceder pela vida de Dona Maria.
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