Olá, querido diário! A atuação de hoje foi intensa. A energia já estava alta
antes mesmo de nos prepararmos pra subir o nariz, nada como boas risadas espontâneas
ao lado dos melhores companheiros. Partimos pra mais uma aventura, indo em
busca do “canto nenhum” pra onde duas mocinhas espertas estavam indo.
No meio
do caminho encontramos bonecas, daquelas que tem botão e choram e que precisam
ser carregadas na tomada quando a bateria acaba, com seus donos, crianças
grandes que chamam de pais; fomos convidados pra festas de aniversário, com
bolo e balões; ganhamos uma viagem pra sobradinho, com direito a sorvete e a
nadar no rio; fomos atrás das ex-futuras mulheres do Lindonildo, que não foram
encontradas, dentre outras aventuras.
O que falar do momento de comunicação
entre Magali e aquela bonequinha tão pequena e doce nos braços do pai, com os
dedinhos envoltos no meu e o olhar atento e vivo, era essa a nossa forma de
conexão... Tudo em volta parecia longe, ela me cativou.
Mas não foi só de doçura que se fez a atuação. Já no fim,
fomos convidados, quase arrastados para a oncologia por uma senhora que dizia “Ei,
palhaços! Venham aqui distrair o bebê enquanto tiram o sangue dele... ele tem
leucemia. Venham, distraiam ele.” Nossa, naquele momento a minha energia caiu
bruscamente. Tive receio. As minhas experiências anteriores na oncologia não
foram tão agradáveis, isso por que lá é um ambiente bastante delicado. Mas
fomos mesmo assim, meus companheiros na frente e eu atrás, ainda um pouco
relutante. Nosso papel foi mesmo o de distrair, enquanto a criança chorava
durante o procedimento. Não me senti a vontade, me senti invadindo o espaço,
tanto que saí da sala por uns momentos, peço-os perdão aos meus companheiros por
isso. Mas voltei, e vi que aquilo estava, em parte, funcionando e sendo
importante para a criança que engolia seu choro as vezes pra olhar atenta e
curiosa praquelas quatro pessoas de nariz vermelho na sua frente. Ouvir um “queria
vocês aqui todo dia” da enfermeira e um “muito obrigada!” dos pais me deixou um
pouco mais tranqüila, e olhar aqueles lindos olhinhos ainda molhados de choro
me fez pensar “valeu a pena!”. Foi uma experiência que incomodou e me fez
refletir.
A UPI tem me proporcionado coisas impagáveis. São nesses encontros
que me coloco diante do outro disposto a ouvir o que ele tem a dizer, a sentir junto,
a respeitar o espaço, a cuidar, a fazer rir, se possível. É a ressignificação
do cuidado, é permitir a aproximação e entender que do nada há sempre um
recurso e que o menos é mais quando se faz com amor.
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