O dia que antecedeu a atuação foi de angustia, ficava me
perguntando: será que vou conseguir? Tentava me convencer lembrando das
palavras de Vits de que estávamos ali não necessariamente pra fazer o outro
rir, mas pra ter um cuidado para com ela e esses cuidado podia se dá de
diversas formas. Aí me tranquilizei, foi o que sempre quis fazer quando chegava
aos hospitais e me deparava com tanto sofrimento e desumanização.
Acordei disposta, fui pegar ônibus e lá mesmo ia buscando
energia, rindo de mim mesma, pois estava em pé no ônibus em grouding (conceito
bioenergético que consiste em dobrar um pouco os joelhos) e quase dançando.
Chegando ao hospital fui encontrando as companheiras e a mais nova do grupo - Amanda,
tivemos um contratempo com a chave do salãozinho e fomos nos arrumar no
banheiro. Prontas? Lá vamos nós, me sentia leve, disposta, disponível,
adentramos aqueles corredores e fomos ao encontro e quantas encontros, quantos
risos, os jogos fluiam bem, as crianças aderiam a eles, tiramos gente da cama e
fomos andar no carro imaginário, fui hipnotizada, virei cachorro e gato.
Tudo fluía muito bem, até que em certo momento uma das
funcionárias veio muito melancólica me dar a triste noticia de que o garotinho,
aquele citado no diário, aquele que me preocupei por tá tão fragilizado e
aquele que ri quando finalmente vi um sorriso do seu rosto quando falava como
chupava a melancia, aquele garotinho havia falecido. Em estado de choque parei
e fiquei olhando pra ela, pensei nas aulas de Silvia quando tanto debatemos
sobre o tema morte, como encara-la? não foi fácil me deparar naquela situação e
então quando abracei a funcionária descobri mais um motivo porque estava ali.
Por um instante senti que cuidava de alguém, que por se humana e sentir a perda
de alguém sofria e precisava desse cuidado, o simples gesto de abraça-la quando
falava de sua tristeza por ter se apegado ao garoto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário