Sobre querer e voltar
Sobre todas as coisas que eu quero, quero outro dia como esse.
Quero os mesmos olhos, os mesmos olhares que se encontram e se reconhecem. Olhares que exploram o outro de uma maneira ainda não vista. Quero olhos que olham de verdade e vêem muitas vezes o que eu mesma não sou capaz de enxergar em mim. Talvez o que eu esteja querendo é ver de verdade.
Há algum tempo os meus olhos vinham se entristecendo com o que viam. Eles sentiam falta de tudo, do tudo. Parecia não haver mais nada. Parecia que tínhamos pego estradas erradas. Sabe quando vc está pela primeira vez num caminho e olha pro lado por 5 segundos e perde aquela placa que indicava o caminho correto? Daí você caminha, caminha, caminha mais um pouco em busca da placa e nada dela. Quando começa a achar estranho tanta demora, finalmente encontra uma placa que diz: retorno. Aí você resolve voltar, não por ter certeza, mas porque tudo aquilo já está muito estranho. Talvez voltar depois de uma jornada cansativa e sem sucesso seja a melhor decisão. Talvez voltar seja necessário. Talvez voltar faça bem. Nesse dia voltamos. E foi bom. Então escrevo no meu diário sobre o bem que faz voltar, pra que eu nunca me esqueça de que ao me sentir perdida o melhor a fazer é voltar as origens.
Então eu voltei. Então eu volto. Enquanto aqui dentro pulsar esse mesmo sentimento, enquanto houver amor, enquanto eu puder amar, eu volto.
Sobre a volta e os encontros
Uma coisa é certa: ao voltar por aquela mesma estrada você vai encontrar alguma coisa. No meu caso, encontrei o que procurava. Encontrei dois pares de olhos vivos, atentos, entregues, que me olhavam de uma forma carinhosa e singela e assim, me senti acolhida. Me senti em casa. Senti muito profundamente que estava no caminho certo. Senti uma vontade imensa de me jogar naquele mar de branco e vazio e me permitir viver tudo aquilo. De repente, o medo foi embora. A insegurança abriu espaço pra curiosidade e pro querer. Minha jarra, antes tão vazia, cheia de teias de aranha, foi se enchendo ao ouvir os barulhinhos que os pés e a respiração acelerada dos meus companheiros faziam. Abrir os olhos, encontrar Esperança samba canção e Rebeca Pouca Janta foi uma sensação indescritível. Então estávamos ali, cheios de vontade, querendo ir. Então fomos.
Fomos e percorremos um caminho recheados de outros olhares que nos observavam curiosos. Demos de cara com uma pequenina dona de olhos assustados que começou a chorar com a nossa presença. Primeiro momento difícil. O jogo continua, cativar não é tão fácil assim. Alguns momentos depois, percebi que a pequenina chorosa nos observava do colo da mãe. Atenta. Agora não mais com expressão de choro, mas de curiosidade. Calma, Teca... O jogo é lento, o caminho precisa ser trilhado com cuidado. Então, após histórias que envolviam muitos canos com água e suco tang de framboesa e goiaba; cravos que encontravam suas rosas em uma dona sorridente, sentimos que podíamos nos aproximar. E assim fizemos. Recebemos um sorriso e a mãozinha da pequenina que vocês já conhecem tocando as nossas.
Seguimos nosso caminho e encontramos muito outros olhares, sorrisos, alguns já conhecidos, outros nunca vistos.
Chegamos ao jardim. Dentre violetas, crisântemos e rosas, conhecemos um girassol. Mas, pra mim, ela mais parecia o sol. Seu sorriso sincero me enchia e fazia meus olhos brilharem cada vez mais. Ela, que já havia encontrado sua chave vermelha em forma de nariz, prometeu ajudar as outras rosas a encontrarem suas chaves pra que elas pudessem conhecer o dom da fala. A outras flores não conversavam verbalmente, mas respondiam com o corpo. Aparentemente elas tinham passado por uma tal cirurgia para receber guaraná e água de coco por tubos e facilitar o processo de beber água, dispensando o uso de copos. No jardim ao lado encontramos a mamãe noel e um senhor que estava estagiando pra ser o próximo papai noel. O processo parecia meio complicado, mas a mamãe noel assegurou que era muito fácil. Acho que pra ser mamãe/papai noel basta querer e pintar o cabelo de branco. O método de pintura você decide. Tudo serve: farinha, trigo, creme dental... Tudo dá bons resultados.
Continuamos nossa caminhada por esse jardim. Encontramos duas florzinhas miúdas. Me perguntei o que elas estariam fazendo ali. Flores tão delicadas, que nem desabrocharam direito já estavam ali naquele jardim, enquanto elas deveriam estar em parques, parquinhos. Mas, não cabe a nós decidir ou tentar entender quem vai para o jardim. Acho que não existe regra. Não tem tempo certo. Ainda acho que somos muito pequenos pra tentar entender todos esses mistérios. Deixemos então com o 'Grande Jardineiro' que entende as necessidades de cada um e sabe com detalhes a história que vamos viver aqui. E, naquele momento, aquelas duas flores não eram flores. Elas eram nobres: a Princesa Didi e a Abelha Rainha. Cada uma com sua delicadeza, com sua beleza.
Mas, uma em especial roubou meu coração... Ah, Princesa Didi... Você não sabe e talvez nunca saberá o quanto mexeu comigo. Você, que no inicio ignorava nossa presença ali, me fez querer saltar de alegria ao sussurrar um 'É' com sua voz suave respondendo nossa pergunta. A cada vez que você levantava seus olhos e olhava pra nós eu sentia a necessidade de dar o meu melhor. Sentia a necessidade de abrir cada vez mais meus olhos e meu coração pra você. Queria que você sentisse que estávamos ali e acreditasse que, naquele momento, você era sim a Princesa Didi. Era também a Princesa Testa no Joelho. Aquele era o seu reino. E ao ver você finalmente encontrando a gente, pensei comigo ao olhar pros meus companheiros: Didi, a esperança está aqui (mesmo que ela esteja de samba canção ^^). Quis dizer isso pros seus pais que estavam ali com você. Quis dizer a vocês que havia amor ali. Que há motivos para acreditar. E isso se traduziu quando você começou a distribuir beijos voadores pelo quarto inteiro. Porém, ao ver seus olhinhos se arregalarem com a chegada da moça de branco com uma injeção na mão eu quase desmoronei. Você começou a chorar desesperada. Pedia a moça que por favor parasse. Dizia não o tempo inteiro. Eu nao conseguia me segurar. Quis sair dali. Segundo momento difícil.
Eu queria sair, mas não sabia se era certo sair. Não sabia se era justo com você. Quer dizer que a gente só ficava lá com você nos momentos bons? Não! Eu queria voltar. Peço desculpas aos meus companheiros por não saber o que fazer nesse momento e agradeço por eles não terem me deixado cair. Voltamos e a Esperança começou a fazer malabarismo, acompanhada pela dança da Rebeca. Agora eles eram observados pela Abelha Rainha e pela Princesa Didi. Saímos para um passeio real e nos despedimos com mais beijos voadores.
Encontramos outras pessoas. Grandes e pequenas, as vezes muito pequenas e até aprendemos um lepo lepo diferente entoado por crianças animadas.
Caro leitor, peço desculpas pelo texto gigante, mas não podia deixar de escrever tudo isso aqui. Pra finalizar, deixo meu muito obrigada a Gled e Débora por esses momentos incríveis! Obrigada por estarem ali, por estarem realmente ali. Obrigada por quererem muito tudo aquilo! Desejo que venham mais dias como esse e que o caminho de vocês seja recheado de encontros verdadeiros.
Um abraço, Teca Lua Cheia. Cheia de vontade de fazer o caminho de volta.
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