terça-feira, 13 de maio de 2014

1ª atuação no HUT, Inês Tamborete- 09/05/14

Diário, bom dia!
Começo te escrevendo com um pouco de atraso e, talvez, por isso, não dê pra lembrar de tuuuudo, tudo que aconteceu.
A primeira atuação em ambiente hospitalar: vixe... O momento mais imaginado, mais ansiosamente esperado desde antes o ingresso na UPI (rs)! E agora? Depois de uma troca de grupo, me vi com o Carlos Fábio e com a Fernanda, além da Flávia (que não pode estar no dia); meus melhores companheiros do mundo. Dispensável dizer que estava nervosa ao cubo, com medo do que viria, se seríamos aceitos pelos pacientes, se eu saberia manter os jogos, se eu conseguiria manter o clown ali, firme e com toda a sua energia. Estava cansada, tinha acabado de sair de uma aula prática e isso pesou em mim naquela noite. Mas eu tinha de estar ali, queria muito e não podia adiar este momento!
Vestir a roupa e colocar a maquiagem já foi um momento doce. A Fernanda parecia de boa, e o Fabinho sempre deixa no ar uma tranquilidade que só sentindo. E eu, lá, falando e falando (sim, eu!). Foi engraçado ter sido justamente a pessoa mais falante do grupo e isso deixou evidente o quão nervosa eu estava; como se, pra aliviar a tensão, eu despejasse no ar as palavras (desconexas, claro), já que não havia caneta e papel, tampouco tempo para isso. Terminado as arrumações, nos juntamos pra subir a energia (que, aliás, já estava ali precisando ser canalizada). Dois pares de olhos me fitavam; um deles, de íris verdíssimas e atentas; outro, desafiador e beem cara-de-pau, devo dizer.
Já não recordo mais quando e de que forma nós, Marieta, Sancho e Inês estávamos desfilando no corredor; sei que demos de cara com um senhor de braço doente e que tinha uma certa pinta de cantor (“gostei do teu cabelo”; “quer pra você?”; “eita, eu já tenho muito, ó”). E daí, pra gente encontrar mais artistas naqueles quartos em que até aparelho tocando música havia, foi um pulo. Atletas, também, como moça que era jogadora de Handebol (o marido dela deu de 10 a 0 em nós nesse jogo) e o tio que exercitava a perna com uns sacos de peso.
A noite foi um tanto movimentada. O quarto mais interessante foi aquele para o qual fomos chamadxs, conversar com três senhoras que lá estavam. A primeira, uma Graça de pessoa, inclusive, ficou imensamente agradecida com nossa presença e a ela pedi que me ensinasse pôquer. E, de lá, fomos aos outros quartos; com cautela, procurei colher olhares, os quais me animavam quando aceitavam minha “investida”; com certeza, as expressões das pessoas ali dentro eu carregarei por muito tempo. O que estavam pensando? O que queriam, distância ou aproximação? Neste momento, minha cabeça começou a girar e os pensamentos chegaram. Vi o quanto de mim tinha naquela clown. Eu fui ali pra observar, pra escutar, trocar algumas palavras. E a sinceridade de um diálogo em que as partes não estavam- ou não pareciam estar- se escondendo tanto quanto acontece em outras ocasiões, encanta e motiva.
Tentamos achar um par para Sancho, tadinho, estava só! Mas rodamos e rodamos e nada de achar uma namorada para ele. Só pessoas dispostas a saber de onde vínhamos (“daqui mesmo!”), se éramos do circo (“que circo?”) e tantas outras coisas... Recordo-me bem de que Sancho Pança Fofa é um companheiro sem igual no mundo. É algo muito dele a tranquilidade e a leveza levando os jogos, fazendo rir até a enfermeira mais sisuda (rs). E a reação dele às “chacotas”, à resistência e desconfiança das pessoas era uma coisa tão bem medida e natural, que fiquei imaginando o quanto deve ter de amor pelo que faz naquela mente (e coração, certo).
De volta pro nosso cantinho, começamos a falar do que foi pra nós. E, claro, falei da angústia. Do não ter sido tão difícil, mas não ter sido tão fácil também. Sim, a noite terminou melhor do que seria sem aquelas horas a mais no HUT; porém ainda estou me adaptando à identidade de minha clown. Aguardo a próxima atuação, que traga ainda mais vida que esta.


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