Diário, bom dia!
Começo te escrevendo com
um pouco de atraso e, talvez, por isso, não dê pra lembrar de
tuuuudo, tudo que aconteceu.
A primeira atuação em
ambiente hospitalar: vixe... O momento mais imaginado, mais
ansiosamente esperado desde antes o ingresso na UPI (rs)! E agora?
Depois de uma troca de grupo, me vi com o Carlos Fábio e com a
Fernanda, além da Flávia (que não pode estar no dia);
meus melhores companheiros do mundo. Dispensável dizer que estava
nervosa ao cubo, com medo do que viria, se seríamos aceitos pelos
pacientes, se eu saberia manter os jogos, se eu conseguiria manter o
clown ali, firme e com toda a sua energia. Estava cansada, tinha
acabado de sair de uma aula prática e isso pesou em mim naquela
noite. Mas eu tinha de estar ali, queria muito e não podia adiar
este momento!
Vestir a roupa e colocar
a maquiagem já foi um momento doce. A Fernanda parecia de boa, e o
Fabinho sempre deixa no ar uma tranquilidade que só sentindo. E eu,
lá, falando e falando (sim, eu!). Foi engraçado ter sido justamente
a pessoa mais falante do grupo e isso deixou evidente o quão nervosa
eu estava; como se, pra aliviar a tensão, eu despejasse no ar as
palavras (desconexas, claro), já que não havia caneta e papel,
tampouco tempo para isso. Terminado as arrumações, nos juntamos pra
subir a energia (que, aliás, já estava ali precisando ser
canalizada). Dois pares de olhos me fitavam; um deles, de íris
verdíssimas e atentas; outro, desafiador e beem cara-de-pau, devo
dizer.
Já não recordo mais
quando e de que forma nós, Marieta, Sancho e Inês estávamos
desfilando no corredor; sei que demos de cara com um senhor de braço
doente e que tinha uma certa pinta de cantor (“gostei do teu
cabelo”; “quer pra você?”; “eita, eu já tenho muito, ó”). E daí, pra gente encontrar mais artistas naqueles quartos em que até
aparelho tocando música havia, foi um pulo. Atletas, também, como
moça que era jogadora de Handebol (o marido dela deu de 10 a 0 em
nós nesse jogo) e o tio que exercitava a perna com uns sacos de
peso.
A noite foi um tanto
movimentada. O quarto mais interessante foi aquele para o qual fomos
chamadxs, conversar com três senhoras que lá estavam. A primeira,
uma Graça de pessoa, inclusive, ficou imensamente agradecida com
nossa presença e a ela pedi que me ensinasse pôquer. E, de lá,
fomos aos outros quartos; com cautela, procurei colher olhares, os
quais me animavam quando aceitavam minha “investida”; com
certeza, as expressões das pessoas ali dentro eu carregarei por
muito tempo. O que estavam pensando? O que queriam, distância ou
aproximação? Neste momento, minha cabeça começou a girar e os
pensamentos chegaram. Vi o quanto de mim tinha naquela clown. Eu fui
ali pra observar, pra escutar, trocar algumas palavras. E a
sinceridade de um diálogo em que as partes não estavam- ou não
pareciam estar- se escondendo tanto quanto acontece em outras
ocasiões, encanta e motiva.
Tentamos achar um par
para Sancho, tadinho, estava só! Mas rodamos e rodamos e nada de
achar uma namorada para ele. Só pessoas dispostas a saber de onde
vínhamos (“daqui mesmo!”), se éramos do circo (“que circo?”)
e tantas outras coisas... Recordo-me bem de que Sancho Pança Fofa é
um companheiro sem igual no mundo. É algo muito dele a tranquilidade
e a leveza levando os jogos, fazendo rir até a enfermeira mais
sisuda (rs). E a reação dele às “chacotas”, à resistência e
desconfiança das pessoas era uma coisa tão bem medida e natural,
que fiquei imaginando o quanto deve ter de amor pelo que faz naquela
mente (e coração, certo).
De volta pro nosso
cantinho, começamos a falar do que foi pra nós. E, claro, falei da
angústia. Do não ter sido tão difícil, mas não ter sido tão
fácil também. Sim, a noite terminou melhor do que seria sem aquelas
horas a mais no HUT; porém ainda estou me adaptando à identidade de
minha clown. Aguardo a próxima atuação, que traga ainda mais vida
que esta.
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