Nesta atuação, acompanhado de
Testa das Frituras, eu me dei conta de uma lição que eu já tinha aprendido
inconscientemente, a cada atuação.
Eu aprendi a confiar no meu
clown. Eu aprendi a confiar no Bartolomeu Barbudo e deixar ele me guiar. Eu
aprendi que, independente de como eu tiver me sentindo, uma vez que eu subir
meu nariz vermelho, comprar o risco, apostar na palhaçoterapia, a atuação vai
dar certo. E tem dado muito certo até agora. Eu vou pra cada atuação sem
esperar nada, no branco vazio. Vou sereno, sem ter a menor idéia de como vai
ser. Mas eu confio no Bartolomeu. Eu confio que ele, acompanhado de seu
companheiro, vão levar alegria e cuidado. E arrisco sem pensar duas vezes.
Uma das coisas que mais gosto
neste trabalho até agora é o retorno imediato, é a reação que a gente vê na
hora, no rosto da paciente. E como tem sido lindo até agora. Eu me divirto
muito, meu companheiro se diverte, as pacientes... sinto energia vibrando o
tempo inteiro, sinto alegria e leveza. Sinto que estou fazendo a coisa certa.
Existem momentos difíceis.
Existem momentos que não são pra gargalhada, que não são pra presepada. Mas o
palhaço e a palhaça podem estar presentes nestas horas também. Pra mim, a
essência de ser clown é manifestar empatia e cuidado, e se for pra ficar
sentado, ouvindo o que outra pessoa tiver a dizer, ou pra ficar caladinho, eu
ficarei feliz em fazer isso também.
E existem momentos que a gente
não é bem-vinda. Existem momentos que reclamam da gente, que nos esculhambam,
que diminuem o nosso trabalho. Eu quero abraçar todas as minhas companheiras e
companheiros que foram negadas, que foram xingadas na hora que a gente se
dispõe a cuidar. O nosso trabalho é pelas pacientes, é pra não abandonar e nem
tratar só o corpo das pessoas que estão nos hospitais, nas maternidades, nesses
lugares que podem ser tão hostis, tão ameaçadores, pra onde vamos nos nossos
momentos de maior vulnerabilidade. A gente não faz só palhaçada, a gente luta
por um ambiente mais humano, por um ambiente que acolha as pessoas e que
reconheça que o aspecto emocional e psicológico é uma parte importante de ser
humano, que não se separa da nossa condição física. A gente luta por um
tratamento mais digno e porque queremos ser profissionais de saúde humanizadas,
porque desde a nossa formação profissional nos importamos com e queremos ser humanas.
Lutar pela humanização da
profissional de saúde vale a pena.
Ser clown não é só cuidar das
pacientes, não é exercer o cuidado só quando a gente sobe o nariz. Ser clown
não é cuidar só no hospital, é cuidar no dia-a-dia, é prestar atenção nas
pessoas que estão do nosso lado também. É difícil, eu sei. A vida toma tempo e
dá trabalho, eu sei. Mas a gente consegue, um passo de cada vez, num trabalho
de formiguinha.
O Bartolomeu Barbudo só me dá
alegria. Eu confio nele, e o carrego comigo pra todo canto que vou.
PS: Neste diário, uso o feminino como gênero neutro para chamar atenção ao sexismo da língua portuguesa.
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