segunda-feira, 30 de junho de 2014

Bartolomeu Barbudo - Atuação no HUT 26/06/2014

Nesta atuação, acompanhado de Testa das Frituras, eu me dei conta de uma lição que eu já tinha aprendido inconscientemente, a cada atuação.

Eu aprendi a confiar no meu clown. Eu aprendi a confiar no Bartolomeu Barbudo e deixar ele me guiar. Eu aprendi que, independente de como eu tiver me sentindo, uma vez que eu subir meu nariz vermelho, comprar o risco, apostar na palhaçoterapia, a atuação vai dar certo. E tem dado muito certo até agora. Eu vou pra cada atuação sem esperar nada, no branco vazio. Vou sereno, sem ter a menor idéia de como vai ser. Mas eu confio no Bartolomeu. Eu confio que ele, acompanhado de seu companheiro, vão levar alegria e cuidado. E arrisco sem pensar duas vezes.

Uma das coisas que mais gosto neste trabalho até agora é o retorno imediato, é a reação que a gente vê na hora, no rosto da paciente. E como tem sido lindo até agora. Eu me divirto muito, meu companheiro se diverte, as pacientes... sinto energia vibrando o tempo inteiro, sinto alegria e leveza. Sinto que estou fazendo a coisa certa.

Existem momentos difíceis. Existem momentos que não são pra gargalhada, que não são pra presepada. Mas o palhaço e a palhaça podem estar presentes nestas horas também. Pra mim, a essência de ser clown é manifestar empatia e cuidado, e se for pra ficar sentado, ouvindo o que outra pessoa tiver a dizer, ou pra ficar caladinho, eu ficarei feliz em fazer isso também.

E existem momentos que a gente não é bem-vinda. Existem momentos que reclamam da gente, que nos esculhambam, que diminuem o nosso trabalho. Eu quero abraçar todas as minhas companheiras e companheiros que foram negadas, que foram xingadas na hora que a gente se dispõe a cuidar. O nosso trabalho é pelas pacientes, é pra não abandonar e nem tratar só o corpo das pessoas que estão nos hospitais, nas maternidades, nesses lugares que podem ser tão hostis, tão ameaçadores, pra onde vamos nos nossos momentos de maior vulnerabilidade. A gente não faz só palhaçada, a gente luta por um ambiente mais humano, por um ambiente que acolha as pessoas e que reconheça que o aspecto emocional e psicológico é uma parte importante de ser humano, que não se separa da nossa condição física. A gente luta por um tratamento mais digno e porque queremos ser profissionais de saúde humanizadas, porque desde a nossa formação profissional nos importamos com e queremos ser humanas.

Lutar pela humanização da profissional de saúde vale a pena.

Ser clown não é só cuidar das pacientes, não é exercer o cuidado só quando a gente sobe o nariz. Ser clown não é cuidar só no hospital, é cuidar no dia-a-dia, é prestar atenção nas pessoas que estão do nosso lado também. É difícil, eu sei. A vida toma tempo e dá trabalho, eu sei. Mas a gente consegue, um passo de cada vez, num trabalho de formiguinha.

O Bartolomeu Barbudo só me dá alegria. Eu confio nele, e o carrego comigo pra todo canto que vou.


PS: Neste diário, uso o feminino como gênero neutro para chamar atenção ao sexismo da língua portuguesa.

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