domingo, 15 de junho de 2014

Marieta Nariguda - Atuação HUT- 06/06/2014

        Eita que hoje o dia foi intenso, confesso que a atuação de hoje foi um tanto difícil pra mim e vocês entenderam porque ao longo desse diário, pode perceber o quanto Fernanda ainda precisa lidar com suas emoções quando dar lugar a Marieta, mas sei que isso acontecerá com o tempo, ao longo das atuações, afinal a vida é feita de aperfeiçoamentos constantes, e como Clown isso não poderia ser diferente.
        A primeira emoção da noite foi usar o novo nariz, é engraçado como senti Marieta mais completa, agora sim ela tinha uma característica ainda mais singular. Mas aumentar a energia para subirmos os narizes não foi uma tarefa simples dessa vez, o entra e sai de pessoas no quarto dificultou um pouquinho, mas confesso que apesar disso foi divertido cantarmos juntos ao invés de ter uma música pronta, e não poderia deixar de registrar que no quesito cantoria Fabinho/Sancho é um expert.  
                                         
                                              
          Depois de estarmos devidamente prontos era hora de Marieta, Sancho e Inês descobrirem as emoções que os aguardavam naquela noite. E já começamos sendo surpreendidos por um rapazinho de 7 anos que estava tentando nos espiar enquanto nos arrumávamos, o engraçado é que quando saímos ele correu e tentou se esconder da gente, daí logo vimos que aquele encontro seria inusitado, e que aquele menino nos surpreenderia.
          Inicialmente ele nos evitou, de todas formas possíveis, fingiu estar sentindo muita dor, tudo isso só pra não nos permitir chegar até ele, confesso que pensei que dali não sairia nada, e que sairíamos do quarto sem um grande encontro. Mas o tempo foi passando e aos poucos ele tentava entrar nas brincadeiras que fazíamos com ele e com os outros pacientes.
          Aaah mas Sancho foi o alvo daquele quarto, em seguida outro rapazinho apareceu e foi logo perguntando quantos meses tinha o bebezinho da barriga de Sancho, ai se iniciou uma troca de brincadeiras, em uma das brincamos que ele tinha engolido uma melancia, e os risos correram frouxos por ali. E  surpresa foi que o rapazinho cantor que não queria nos dar bola, passou a nos acompanhar em todos os quartos, e logo vimos que ele era famoso por ali.
          O outro quarto era cheio de gente diferente, tinha uma moço que se escondia dentro de uma cabana e tinha amarrado no pé varias garrafas de água, logo pensamos que ele era bem esperto porque se sentisse sede era só dar um chute e pronto a água estaria em mãos, um que sentia calor enquanto todos sentiam frio, e outro que era tão brasileiro que carregava isso até no nome, e com muito orgulho por sinal.
         Enfim chegamos no quarto em que tantas emoções afloraram em mim, e travaram Marieta por várias instantes, confesso que sempre  ao lembrar de lá algumas lágrimas insistem em marejar meus olhos, e mais uma lição aprendi naquele quarto, a morte nunca nos tira alguém por inteiro, ela apenas nos impede o contato físico com aquela pessoa, mas as lembranças estarão sempre ali vivas, sempre te fazendo sentir o mesmo amor por quem se foi.
          Não, não foi fácil ver naquele senhor uma lembrança tão viva e tão forte do meu avó, minhas vontades se confundiram naquele momento queria sair dali chorar até a dor cessar, mas queria também abraça-lo na esperança de sentir novamente o mesmo carinho que sentia ao abraçar o meu avó, coincidentemente esse senhor tinha a mesma idade que ele, 81 anos, e um olhar gritante de quem quer viver mais, apesar das limitações.
         Ver aquele senhor ali, não sendo tratado como deveria, fez meu coração aflorar muitas coisas adormecidas, queria tirá-lo dali, queria tantas coisas que não conseguiria registrar aqui, mas eu tentei reprimir tudo ao máximo, tanto que acho que meus companheiros não perceberam, mas ainda estou com um nó na garganta, e uma dor latejante no peito, que grita de saudades, e a partir daqui não conseguiria mas descrever as coisas que vieram , porque Fernanda/Marieta ficou presa ao olhar daquele senhor, e vejo o quanto preciso superar algumas dores.
          Prefiro encerrar por aqui, não de forma triste, mas com mais vontade de cuidar, cuidar enquanto ainda posso, cuidar enquanto ainda tenho quem amo pertinho de mim....E ficarei aqui, esperando  encontros tão lindos quanto esse, que encham cada vez mais a minha jarra, e que me humanizem constantemente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário