segunda-feira, 9 de junho de 2014

Frida Seriguela - 09/06/2014 - Hospital Materno-Infantil Juazeiro (BA)






Acreditar. Talvez seja uma das tarefas mais difíceis... Um dia desses vi por um desses textos perdidos na internet que o amor vinha do acreditamento. Achei bonito, compartilhei.
O quão difícil é colocar isso em prática. Como é...
É diário de bordo, vou começar falando de todas as coisas doces que encontrei no meu caminho hoje. Coisas bem doces, como um "Vai não, fica mais um pouco!". E todos os olhares, os encontros e os jogos que hoje nasceram ali, naquele lugar que dizemos impossível.
Tão difícil quanto acreditar é humanizar. Talvez porque poucas pessoas entendem que é irônico fazer isso com Seres Humanos. Mas poucas pessoas entendem o que é ser. 
Hoje acordei acreditando, me disponibilizei, sair da minha casa em uma segunda de manhã de uma semana bem cheia e fui ouvindo no caminho da minha melhor companheira do mundo (Ela, que é tão companheira sempre, há tanto tempo): O difícil é fazer o simples!
Os olhos abriram, aquele ponto vermelho já estava no rostinho delas. Rosinha e Fiapinho, lindas e disponíveis como nunca.
Logo me deram uma carona em um carro achado no meio do caminho. Do carro surgiu a multa, da multa a fuga e da fuga um: "Vai não, fica mais um pouco...". O quão doce foi aquele pedido.
Dos encontros, fica o que a gente sempre deixa quando encontra. E leva tudo que isso me dão de presente, me dão tantos presentes que consigo levar pro resto do dia, presentes esses bem invisíveis aos olhos, como as coisas essenciais dessa vida.
São esses presentes que me dão força pra continuar. Continuar mesmo quando o jogo cai. Ah, esqueci de falar. O jogo não caiu, o derrubaram.
No momento exato em que depois de um tempão, conseguimos ouvir da menininha o nome dela... Olha só, ela fala e o nome dela vai crescendo junto com ela, ela cresce e o nome cresce, fantástico não?
Ai a gente escuta aquele: "Ei, deixa eu falar com vocês..."
Quando a gente se propõe a cuidar, o descuido é doloroso. Houve descuido em toda a fala dela, desrespeitou, doeu... Doeu muito. Aconteceu o que eu temia... Fizeram Frida chorar, eu só queria sair da ali, queria tapar os meus ouvidos, queria correr. 
Queria acreditar que não, que a menininha que a dois minutos dizia o nome dela não estava ali, presenciando tudo isso. Não queria perceber que todos que estavam pelo corredor do hospital, que aos poucos entraram no nosso jogo, estavam assistindo aquilo. Estavam assistindo o jogo cair. 
O jogo caiu, junto com ele ainda no corredor, desci a máscara e Frida se foi. Guardadinha a 4 dedos abaixo do meu umbigo e bem, bem dolorida.
Tentei questionar onde estaria nosso erro nisso tudo, onde estaria o erro dela... Mas preferi não pensar em "erro". Mas não conhecer o projeto é algo perigoso. É difícil entender que os profissionais de saúde também precisam do nosso trabalho e que não estamos brincando. O trabalho é sério, há uma formação séria, um processo sério pra chegar ali. Estávamos também trabalhando. Naquilo que acreditamos, que amamos. Repito a frase da minha companheira ainda no caminho: Difícil é fazer o simples.
Tarefa difícil, porém, não desisto. Continuo acreditando, é por pessoas como ela que me mantenho ali, é por acreditar em um cuidado, acreditar em uma saúde melhor. É por "acreditamento" que permaneço ali.
E que todas as lágrimas e toda a dor e todo o desencanto, seja só mais um combustível para continuar. É por pessoas como ela, que continuo...

E continuo acreditando que é possível. Continuo acreditando que vai. Uma hora vai.
Obrigada as minhas melhores companheiros do mundo, por serem as melhores.

E lembra sempre, é por acreditamento. Puro, acreditamento.

Continuarei =)

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