Oi, meu diário! Hoje vim lhe contar o que vi, encontrei e me permiti.
Me refiro ao meu encontro com minha doce Frufruta, que tanto prezo por ela se
permitir encontrar, enquanto eu só vejo.
Você deve ter percebido, diário, um certo tom de seriedade na minha
voz. Posso te afirmar que não é tristeza! Não mesmo! É aprendizado, companheirismo e culpa. Uma
culpa sofrida por que o que Jully viu nessa última terça roubou duramente o
brilho nos olhos da Frufruta.
Eu já ansiava por minha atuação mesmo com minha rotina bem conturbada,
contava os minutos pra meu nariz ficar vermelho e aquecido de paixão. O mundo
resolveu até me cuidar um pouco, talvez pra me preparar pra o que estava por
vir. Mas depois tudo voltou pro normal, e com o normal quero falar problemas
que me perseguem todos os dias... Mas eu nem liguei, só queria a plenitude de
estar onde eu queria estar, no HUT, com minhas melhores companheiras do mundo!
Bem, logo quando cheguei soube que uma das minhas monitoras teria que
ficar com o outro grupo. Nem tive tempo de ficar tristinha por que já fomos
subindo e problemas começaram a fervilhar na minha cabeça. Nem sei se falei a
minha querida Toin-oin-oin que queria muito atuar com ela, mas entendia que as
outras novinhas também precisavam do apoio desse charme em forma de clown!
Mas não fiquei desamparada. Pelo contrário... Pude contar com a
azedinha delícia da Creusa e a estonteante Tempestade! E como sempre a música
que subi a energia definiu a minha atuação. A música dessa vez foi escolhida
por mim, de uma cantora que todas suas músicas me dão um sirico-tico! Dentre
muitas outras músicas de outros cantores, a música escolhida apareceu, e eu
sabia que era a escolhida desde a ouvi cantar, mesmo que em inglês,
“Encontramos amor em um lugar sem esperança”.
Pera, mas o hospital não é assim! Ou pelo menos não era pra ser! Por
que essa música foi tão importante?
Bem, nunca tinha me deparado com tamanha falta de esperança e descobri
o quanto isso é avassalador.
Foi em um dos primeiros quartos, o senhor que me comoveria conversava
com algumas pessoas já conhecidas. Entramos tentando encontrar olhares, ganhar
confiança. De primeira não nos deram bola, mas logo em seguida a primeira bomba
explodia aos meus pés. “Eu tenho chagas, e estou morrendo”. Os olhos de Jully
se arregalaram, mas minha teimosa Frufruta jogou de volta; falaram de barbeiro
e ela queria saber onde que raios esse barbeiro ficava. Claro, o pai dela
precisava se barbear também! Mas não parariam de cair mais bombas. “Você fala
isso porque é jovem! Quero ver se você estivesse morrendo com um coração
inchado se ia pensar assim!”. Mas minha Frufruta me salvava... Opa! Seu coração
tá grande? Cabe mais gente então... Deve dar pra amar muito mais! Ufa... O
senhor entendia nosso propósito, sorria e sabia que estávamos ali pra fazê-lo
se sentir bem. Mas ele se dava como caso perdido. Sem esperança. A cada jogo
novo de Frufruta ele se divertia, mas criticava um ácido que me corroía por
dentro. Mas era impossível parar, só queria tirá-lo daquela sala, pra viajar um
pouco com a gente, pra me ser duro comigo e se esquecer de ser tão rígido com
ele mesmo.
E quando fui jogar com outro paciente, a última bomba me desarmou de
vez. “Ih... Essa foi fora, viu?! Dessa vez a brincadeira não foi legal”. Minha
Frufruta já não resistia mais...
Minhas melhores companheiras subiram o jogo e continuaram, mas minha
energia tinha ido toda embora. Eu continuei nossa atuação pra dar apoio às
minhas companheiras; mas ali era só eu, quase de observadora. Já havia fechado
meu trabalho por aquela noite, já havia dado tudo de mim!
Depois me contaram que não tinham energia pra jogar com o rígido
senhor, e que meus jogos salvaram a energia daquele quarto. Não tinha percebido
isso na hora, escondi tão bem que estava abatida pra não deixar o jogo cair,
pra não deixar o senhor desamparado.
Saí do hospital de jarra vazia, mas com a sensação de dever cumprido!
Graças às melhores companheira do mundo, que subiram minha energia bem ali, no
quarto em que nos arrumamos.
Eu e minha Frufruta Doce nos despedimos; mas só por enquanto!
Fico aqui com gosto de quero mais!
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