"Nessas horas dorme longe a lembrança de ser feliz..."
20.06.14, sexta-feira, Esperança, Rebeca e Toquinho nos corredores da
vida...
Nunca
sai tão mexido de uma atuação, como na da ultima sexta-feira. Depois de baixar
o nariz um turbilhão de informações circulavam na minha mente, na salinha me
questionei sobre muita coisa e saí do hospital com a cabeça ainda a mil. Pensei
sobre gostar ou não de crianças, pensei sobre as escolhas que faço na vida,
sobre Esperança, sobre está ou não preparado pra o que eu estou fazendo, e principalmente
sobre meu futuro e todas as incertezas que junto dele caminham.
Apesar
de toda beleza daquela tarde, apesar de todos os momentos bons, de todos os
sorrisos, de todos os olhos brilhando de curiosidade no corredor do Dom Malan, das
crianças, (haaaa as crianças), apesar de tudo aquilo, a única coisa que
insistia e insiste em aparecer na minha memória é a área da oncologia e tudo
que aconteceu lá dentro, é disso que eu lembro então é disso que vou falar.
Logo
de cara, ao entrar, procuramos por algumas pessoas que tínhamos encontrado na
atuação anterior; segundo a enfermeira alguns deles tinham recebido alta (coisa
boa), mas outros tinham vindo a óbito; O.O isso mesmo, vindo a óbito, aquilo
foi dito com a naturalidade de quem lida com a morte todos os dias da semana, e
me gelou o coração; coração esse que continua gelando toda vez que lembro a voz
daquela enfermeira pronunciando a lista de pessoas que tinham falecido de um
dia pro outro, como quem grita no supermercado uma lista de produtos em falta,
“_Arroz, macarrão, e leite. Acabaram.” Ai como doeu, ai como Esperança passou
de verde pra branco, ai como as pernas ficaram bambas; mas fazer o que? Continuamos,
a energia não deveria cair, e o “pior” ainda estava por vim.
Entramos
em outra sala, a maior do pavilhão, e com a voz bem contida, respeitando o
ambiente, (como tínhamos combinado antes de subir o nariz), fomos, de cama em
cama, tentando jogar, como sempre fazíamos, até que uma enfermeira que já
tínhamos encontrado no corredor, entrou no leito e nos chamou, “_Ei, vocês três
ai, preciso falar com vocês”, dentro do leito me senti como uma criança que faz
uma coisa errada e a mãe a repreende em público; mesmo envergonhado fui. Do
lado de fora a enfermeira falou que um dos acompanhantes havia reclamado da
nossa presença ali, segundo ele estávamos fazendo algazarra no quarto e a
paciente estava sentindo dor e incomodada com a nossa presença, a enfermeira
pediu que nos retirássemos, e que tivéssemos cuidado, pois a oncologia é uma
área muito delicada, onde as pessoas estão muito sensíveis.
Doeu,
pegou de surpresa e confundiu minha cabeça, passei de herói a vilão em uma
fração de segundos, foi difícil mas não deixei a energia cair, eu e minhas
companheiras precisávamos sair daquela juntos, e juntos saímos.
Na
salinha, baixamos o nariz, trocamos de roupa e voltamos para falar com a
enfermeira, explicar o porque de estarmos ali, e mesmo não tendo muita culpa,
pedimos desculpas, as vezes é necessário. Ela - como geralmente acontece - não
entendia nada do nosso trabalho, da nossa formação e função dentro do hospital,
mas não nos demoramos, conversamos de forma direta e fomos embora.
Demorou
pras coisas ficarem claras na minha cabeça, mas no fim preferi acreditar que
não erramos, que estávamos ali pra fazer o que nos propomos a fazer da melhor
forma possível, da melhor forma que podemos, sei que nem sempre dará certo, nem
sempre será aceito, nem sempre fluirá, mas vou continuar até onde der.
Por
fim, preciso agradecer a Ana Ceres por de forma tão leve conseguir está comigo
em momentos tão importantes na minha vida, talvez sua presenta é que torne o
momento especial. Muita coisa tem mudado na minha vida depois da UPI e nessas
mudanças você é peça fundamental. A atuação daquela sexta pode até não ter sido
a mais feliz do mundo, mas será eterna em mim. Como você mesmo disse antes da
atuação, “_Marque essa data na memória de vocês.” Pois é, está marcada.
Núcleo
do dia: 20.06.2014
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