terça-feira, 3 de junho de 2014

Bartolomeu Barbudo - Atuação HUT - 29/05/2014

É uma coisa diferente, atuar. Eu sinto que me separo de mim mesmo, mas sinto que fico mais perto do que eu quero ser. É algo muito fugaz, é algo meio paradoxal. Não me sinto em conflito, não, longe disso. É porque cada atuação traz um misto de sensações que eu não sei explicar, mas que me delicia.
Eu me sinto mais humano. Fico mais perto do Dudu que eu quero ser. Eu acho todo o processo da formação em palhaço bastante encantador, humanizador. Cada passo é importante. Hoje, pra mim, eu me jogo muito no clown, eu me jogo muito no Bartolomeu e me entrego a esta face da minha pessoa. Quando atuo, só existe aquele momento, o mundo inteiro está naquele corredor de hospital, e as pessoas mais lindas e admiráveis estão comigo: sejam as minhas melhores companheiras do mundo, sejam as pacientes, suas acompanhantes, funcionárias. Quando estou ali, parece que o resto mundo entrou em pausa e só aquele pedacinho de chão respira vida, cheira vida, transborda vida.
Eu me esforço para perceber as pessoas, para captar um pouquinho os seus dilemas. Cada pessoa que está ali tem uma história, tem uma bagagem, tem um peso. O que eu quero fazer quando estou ali é dar um pouquinho de força, ajudar a carregar, enxugar o suor da testa e dizer “Você não está sozinha. Eu sei que você está sofrendo, mas existe alguém que se importa com você”.
E o nosso trabalho de clown é um trabalho de formiguinha, às vezes o que a gente faz parece que é pouco, mas a gente deixa a nossa sementinha plantada. Eu quero acreditar que a gente deixa uma esperança plantada, a cada encontro, a cada sorriso, a cada olhar. E a cada atuação, as nossas melhores companheiras do mundo regam essa plantinha, regam essa esperança.
Estava eu conversando com uma amiga que eu adoro, a Tathy, e eu tava contando pra ela o quanto é lindo ver a entrega de cada uma das nossas amigas da UPI nas atuações. O quanto é lindo quando a gente se doa de verdade pra nossa clown, pra nossa versão palhaça. Mas eu acho que a UPI faz seu papel mesmo não é quando a gente se entrega pra clown, que é importante, mas é quando a clown faz parte de nós na nossa vida cotidiana, quando ela vira uma parte da nossa vida pessoal e profissional. É quando a gente traz a clown pra profissional de saúde que a gente quer ser. E nessa minha formação, é isso que eu quero.
Este foi um diário diferente, não contei como foi cada encontro da noite, mas contei com a companhia adorável de Chiquita Pequena Sombra e Testa das Frituras.




PS: Neste diário de bordo, uso o feminino como gênero neutro para chamar atenção ao sexismo da nossa língua. 

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