quarta-feira, 22 de abril de 2015

Mariqueta Boabunda, HUT, 22/04/2015

                A atuação de hoje me tocou muito. Primeiramente, porque minhas melhores companheiras eram as novinhas Lari e Bibi, usando os lindos trajes, trejeitos e olhares de Marieta e Biju, e eu sabia o quão pesado seriam as expectativas delas... Segundo porque, apesar de toda a ansiedade, esta foi a atuação em que mais encontrei, e os olhares sinceros não paravam de aparecer. Acredito que, em grande parte, porque muitos dos pacientes que encontramos eram idosos, e estes, geralmente, se apresentam sozinhos e carentes.
                Foi hoje que encontrei o olhar de dona Ana, aquela senhora com Alzhaimer que não me entendia, mas cujos olhos brilharam e a boca se abriu em um sorriso quando eu disse “Seus olhos são lindos, dona Ana!”. O “Posso te dar um abraço, dona Ana?” foi respondido com um sincero “não gosto muito disso não...” seguido por um lindo sorriso que só me fez ficar ainda mais encantada.

                Foi hoje que conheci seu Domingos, que tinha um olhar vago, perdido entre pensamentos que não são mais verbalizados devido às dificuldades que o tempo impõe sobre o corpo. Seu Domingos mal parecia notar nossa presença ali, mas aos poucos nos encontramos por entre olhares e frases repetidas até que a compreensão fosse estabelecida. Foi então que ele, no auge de seu esquecimento, cantou-nos um verso por bem 10 minutos. Era tão sincero, era tão bonito vê-lo tentar se comunicar com a gente, vê-lo sorrindo naquele ambiente tão triste, que me escorreram lágrimas por entre os sorrisos. Sim, ele me fez chorar sem nem mesmo entender o que ele estava falando, porque depois de um dia extremamente cansativo, depois das frustrações da medicina, depois de provas sem sentido e noites em claro, seu Domingos me lembrou a maior das razões pela qual deveríamos fazer tudo isso: o outro.

Lição do dia: às vezes, as pessoas só precisam ser escutadas.

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