Depois de tantos meses sem andar
nos corredores dos hospitais, eu, Bartolomeu, voltei ao lugar onde me sinto tão
bem. Desta vez, tenho uma nova melhor companheira do mundo, a linda Cassandra
Paçoca.
Eu estava receoso, ansioso. Não sabia
mais ser palhaço. Fazia muito tempo que meu nariz estava guardadinho,
quietinho. E tava confortável, tava sem querer sair do canto, como aquele
cobertor tão gostoso que prende a gente na cama, que faz a gente barganhar por
mais alguns minutos de sono.
Da mesma forma que na vida, a
gente tem que levantar e fazer as coisas. O palhaço prepara o figurino e vai
encontrar o público. E lá fui eu pro Dom Malan.
E chegando lá, teve aquela
sensação boa de estar num ambiente que já conhecia. Falei com o pessoal da
recepção, que lembraram de mim (fiquei feliz com isso). Encontrei minha
companheira, vestimos nosso figurino e fomos ao encontro das pessoas.
Começamos nos misturando no meio
das pessoas, afinal, somos palhaço e palhaça discretos, finíssimos, bem
vestidos! Muito bom como nos portamos com toda a elegância extravagante que só
o palhaço pode ter.
Fomos convidados para vários
ambientes, passamos por vários setores. Na parte de ginecologia, vimos tantas
pessoas com roupas brancas compridas, parecendo vestidos. Tanta elegância e
padronização só podia significar que tava rolando um casamento no hospital e
fomos procurar onde ia ser a recepção! Fomos atrás de bolo, de comida, e em um
quarto ouvimos de uma mulher aquilo que motiva a gente a continuar no projeto: “vocês
vindo aqui faz até a dor passar um pouco”. Ainda no setor de ginecologia, noutro
quarto, nos pusemos a descobrir o significado dos nomes, os nossos e das
pacientes e acompanhantes. Havia uma professora de português lá, e não pude
deixar de me exibir, falando em etimologia das palavras, radical, sufixo, todo
chique!
Na oncologia, desafio constante,
encontramos um menino com muitos carrinhos, e brincamos muito juntos, Cassandra
sempre disposta e puxando novas brincadeiras. Na sala do lado, fomos informados
que uma senhora não poderia rir, porque ia sentir dor. Ah, mas a gente sabe ser
sério. Bartolomeu, quando quer, é muito seriozíssimo, e Cassandra também. Quando perguntaram do meu cinto largo e lindo,
fomos contar a história: na verdade, eu sou campeão mundial do UFC. E contamos
a trajetória: a alimentação (é coisa séria), o treinamento (é coisa séria), a
entrevista no Fantástico (com o seríssimo William Bonner). Tinha um bebêzinho
bem pequeno nesse quarto que estava dormindo e se mexendo, e começamos a fazer
a interpretação dos sonhos: descobrimos que ele estava surfando, nadando na
prancha, pensando no mar, no sol. Já tava em treinamento.
Foi uma atuação excelente. Ser palhaço
é igual andar de bicicleta: a gente não esquece.
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