sábado, 16 de julho de 2016

Frida Tequila, HUT, 16/07/2016

"E de surpresa em surpresa, o inesperado. E quando o inesperado lhe sorri, como não lhe sorrir de volta?"


Mora Morango e eu subimos o nariz nesta tarde de um sábado calmo e suave. Fomos a um andar diferente do de costume. Já quando pusemos os pés no corredor, com a energia lá em cima não sei onde, prestes a virar para qualquer quarto ao acaso, parece que o destino nos sorriu. Um grupo de enfermeiras que passava só nos olhou e disse: "Vocês deveriam ir ver Ricalene, ela está precisando hoje". Por que não então?
Entramos sabendo que Ricalene estava meio "pra baixo", e esperávamos chegar lá e animá-la da melhor forma possível. Mas como se sabe como animar uma pessoa? Eis a questão. Não necessariamente é preciso animar uma pessoa. Basta estar lá. 
No meio da conversa com ela e a mãe, as enfermeiras foram trocar suas ataduras e fazer a limpeza diária em uma de suas pernas, que foi gravemente ferida por um acidente de moto. Achamos que era coisa rápida, e o papo estava bom, então permanecemos. Quando menos esperamos, Ricalene começou a sentir muita dor, conforme o processo todo das enfermeiras seguia em curso. E, cada vez mais, mais e mais dor. Ela se contorcia, às vezes, e nossa energia caiu completamente, desabou. Eu, particularmente, me senti uma geleia na hora; não era Frida ali, não era Yasmin, era uma geleia derretida, comovida. Não podíamos fazer gracinha naquela hora. Não podíamos dar um sorriso amarelo e dizer que era besteira o que ela estava sentindo, porque sentíamos tudo aquilo nos olhos dela, toda aquela dor. Não saímos de perto dela por sequer um instante. Ficamos lá, apertando forte sua mão, acariciando seus cabelos, enquanto suas lágrimas caíam. Mas isso só bastou para ela. E não me arrependi em nenhum momento de ter ficado minha atuação INTEIRA do lado daquela mulher forte e corajosa. Se eu estava reclamando de alguma coisa da vida até aquele instante, engoli orgulhosamente minhas preocupações rotineiras, enfiei mesmo goela abaixo, e dediquei tudo o que pude àquele ser humano bem ali, na minha frente, com apenas palavras, carinho e uma mão bem apertada para ela segurar o quanto quisesse. Terminados os curativos, ela finalmente conseguiu acalmar seu coração; e nós, o nosso.
Nunca na vida senti tanto o poder da empatia como hoje. Se não fosse essa pequena palavrinha mágica, estaríamos lá, nós duas, feitos bobas, fazendo algo para ela rir, sem necessidade. Graças a essa palavrinha transformadora, vimos o mundo pelos olhos de Ricalene, sentimos o que estava sentindo. E por isso ela foi grata. Por não ignorarmos a sua dor, e, embora não podendo aliviar fisicamente sua angústia, sinto que ficou algo em seu coração, algo como a gratidão, um sorriso na alma. E quando o inesperado lhe sorri, como não lhe sorrir de volta?


 Ricalene sobreviveu. Agora eu tô rindo mesmo, porque na hora foi só aquele olhinho do Gato de Botas na cara. Sim, isso mesmo, a única coisa que apareceu de mim na foto foi esse laço no canto inferior direito. Isso é que dá botar alguém que não sabe usar uma câmera pra tirar a selfie. 

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