domingo, 15 de julho de 2018

Vivi Ajante, Abraço Grátis, 08/07/18


                                      Cores do meu dia


          Era o comecinho de uma daquelas manhãs que transformam o dia em um mundo sem cor, pois o sol ainda estava escondido entre as nuvens pálidas. Mas um ou outro pedacinho tímido dele se mostrava e em pouco tempo o dia já estava claro e o céu parecia uma tela em lápis-lazúli riscado com linhas alaranjadas. Engraçado que até o ar frio do comecinho da manhã foi substituído por uma lufada de ar quente que encheu meus pulmões com a mistura de cheiros da feirinha: Carnes cruas, especiarias, queijos, suor, frutas (principalmente caju) e aquilo tudo foi nostálgico para mim. Vocês conseguem fechar os olhos, lembrando-se de um determinado momento da sua vida que vem à tona só por causa dos cheiros e sons a sua volta? Isso acontece muito comigo. Feiras são lugares incríveis. As cores e o movimento. Ao observar superficialmente tudo aquilo parece um mundo gigante e indistinto. Mas não se engane: Há vários micromundos em meio a todo aquele universo misto.
         Na barraca central de frutas, um homem cortava um abacaxi ao meio e o cheiro adocicado e cítrico chegou a mim. Respirei aquilo. Em outra barraca, uma mulher debulhava grãos com uma habilidade que provavelmente eu nunca terei. Sorri. O cheiro de beiju quentinho e queijo de cabra vindo de outra parte da feirinha me convidavam para explorar mais. Fui. E ao mesmo tempo em que isso tudo acontecia, uma menininha brincava com um carrinho de controle remoto e sem querer (distraída que sou) esbarrei nele. Olhei para menininha e sorri num pedido de desculpa silencioso. E foi aí que os abraços começaram. Vocês sabiam que um abraço começa no olhar? Mas não qualquer olhar. E sim aqueles que são como sorrisos. E no fim das contas, todos aqueles olhares marejados de felicidade que me convidavam a ir correndo abraçar alguém ou até mesmo os olhares desconfiados que me deixavam sem graça, com um risinho bobo eu me afastava expressando um meneio com minha cabeça... Todos aqueles mundinhos particulares em meio a tantas cores, um universo de possibilidades... Um menininho que devia ter uns seis anos me olhava timidamente enquanto se escondia atrás das pernas da mãe. Olhei para ele e dei uma gargalhada. Ele sorriu de volta, mas com vergonha. Percebi que nossos sorrisos tinham janelinhas. Aproximei-me dele, me abaixei. Mostrei a ele que éramos parecidos. E então ele pulou no meu abraço.
         Somos únicos, dotados de singularidades, mas reconhecer no outro um pouquinho que seja de semelhança nos faz mais humanos. Une-nos. E naquele abraço eu me senti com seis anos de idade também. A Audrey Hepburn dizia que Pessoas, muito mais que coisas, devem ser restauradas, revividas, resgatadas e redimidas.” E eu acredito que um abraço é capaz de transmitir tudo isso. Então, meu querido diário, como uma viajante que não fica muito tempo no mesmo lugar, eu posso dizer que em cada abraço eu deixava um pouquinho de mim e levava um pouquinho do outro comigo também. E eu nunca me esquecerei de cada rosto e das cores daquele dia. 

Com amor, Vivi Ajante.




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