segunda-feira, 30 de julho de 2018

Tina Gatínea, 2º andar, HUT, 28/07/2018

Não foi preciso ir no Dom Malam para vermos alguma criança. Vimos ali mesmo, no HU. Vemos aonde olharmos. Mas as vezes não enxergamos-nas. Não enxergamos tantas outras coisas. Não enxergamos a vida, toda ao contrário, as inversões de valores, nossas crianças nas ruas, passando fome, trabalhando, sem escola, lazer, comida. Não vemos eles, não vemos nossos jovens, adultos e idosos. Apenas não vemos várias coisas, ou, até vemos mas não enxergamos e não sentimos como deveríamos sentir. A ânsia, o desconforto que vai na alma. No HU, nos pediram, “vocês poderiam ir no quarto, que tem uma criança de 9 anos que foi esfaqueada?”. Parei! Com um pouco de tempo fomos lá, e como quase toda criança que encontrei ate hoje lá, ela muito acanhada, respondia uma coisa ou outra que insistentemente perguntávamos e tentávamos animar, inventar algum jogo que, nem eu sabia o que queria que provocasse nele. Que olhos lindos ele tinha! Olhando mais um pouco, vi suas unhas todas sujas, sujas de verdade. Unhas sujas, pretas, que denunciam uma condição que não sabíamos qual que era mas gritava, não era algo comum a uma criança, ou a quem que que seja. Arrancamos alguns discretos e tímidos sorrisos, e aquele olhar verde em nossa direção. Depois, nos disseram que quem tinha provocado aquilo tinha sido outra criança. Parei, novamente! E deixando de lado o perfil vingativo, frio do ser humano que cada vez mais vem se pautando na lei de talião , pensei, o que me doeu mais ainda.  Me veio o conto de Mineirinho de Clarice Lispector. Que realidade é essa, a qual as crianças e pessoas vivem, e as coisas parecem ser banais e não provocar o ar de espanto e de absurdo que nos é instantâneo ao ouvir notícias desse tipo? Que realidade é essa que está sob nossos olhos, mas não vemos e parecemos inertes e incapazes de fazer algo de concreto. Desde quando damos o "décimo terceiro tiro"? ... Sei lá. Talvez seja um começo sentir todo esse desconforto e embora incomode, agradeço por sentir, não quero apatia. Não quero permanecer sendo uma sonsa sensorial.



( tentei saber dele com outro grupo que tinha ido lá, uma colega falou sobre um menino que teria caído de cavalo e não sofrido essa violência. mas será que importa? faria diferença ter sido somente um equivoco?  isso impede de que não esteja acontecendo ou a acontecer em algum lugar, sob nossos narizes?!)

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