Primeiro dia de atuação. Dia do abraço grátis. Isso me fez lembrar que num passado não tão distante eu me sentiria desconfortável por ter que abraçar pessoas. As vezes nós tememos o contato, talvez seja uma tentativa de autopreservação. Isso me fez pensar nos contatos, que já tive em toda minha vida, desde o primeiro até o último, e chegar a conclusão de que contato é abertura. Abertura pra tocar, pra sentir, pra experimentar, seja lá o que for que pode ter lá fora. E por "lá fora" quero dizer exterior a mim. Sempre dá medo, afinal, lá podemos encontrar de tudo. Dor, conforto, alegria, tristeza, miséria, bonança... Eu estava um pouco apreensiva em abraçar desconhecidos. Depois de tudo, só pude concluir que Lola aguça minha curiosidade. Eu estou completamente entregue a ela. Independente do medo que eu sinta o impulso de confiança dela é maior que tudo.
Afinal, se ela tinha o melhor abraço de todos, por quê não oferecê-lo? Seria injusto comigo e com as pessoas todas que ela abraçou. Foi uma experiência de contato. De reconhecimento: reconhecendo-se em desconhecidos. Me fez pensar que todas aquelas pessoas, ali naquele espaço, também estão a cada segundo sendo impulsionadas a entrarem em contato com um mundo de coisas fora de si. Alheio, desconhecido. Que talvez elas também tentem fugir disso, como eu já tentei. Procurando estabilidade, se prendendo a rotinas, comprando pão toda manhã e indo trabalhar. Vivendo sempre o mesmo dia, um após o outro, se acostumando a desesperar algo novo. Colocando máscaras, se perdendo de si mesmos cada vez mais. Talvez só tenham sido ensinados a serem assim. A desistirem de comprar o risco, já que isso resultou num joelho ralado, do qual suas mães reclamaram durante uma semana inteira.
Desde aquele dia, daquela atuação, gosto de pensar comigo mesma que pelo menos uma das pessoas que foram abraçadas agora pensa que o contato é importante, mesmo que haja riscos. Que o joelho ralado vale a pena, se comparado a brincadeira toda (afinal, se não valesse eu não teria ralado o meu várias vezes, né?!). Que elas vão comprar o risco, que vai valer a pena. Que elas vão se permitir cativar e serem cativadas.
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