Junho acabou,
mas as festas continuam! Logo na recepção, ficamos sabendo que depois das
comemorações de Santo Antônio, São João e São Pedro, em julho é tempo de festa
de São Palhaço! E fomos atrás das comidas típicas, porque palhaço tem fome. E descobrimos
que entre as comidas típicas desta festa, tem pão, ovo, pirulito, e suco.
E que surpresa
eu teria nesta atuação. Fomos muito bem recebidos, em vários quartos, Neusa e
Bartolomeu tiveram a grande oportunidade de segurar nos braços os grandes
convidados daquele estabelecimento, os bebês. E eu, Dudu, fiquei com medo.
Tenho muito medo de segurar bebês tão pequenos, tão frágeis. Mas as mães
estavam se divertindo tanto na nossa presença, estavam tão dispostas, tão
presentes… felizmente quem estava lá não era Dudu, que teria recusado
prontamente, mas era Bartolomeu, que como todo palhaço, é especialista em tudo,
inclusive em segurar bebês. Recebendo dicas, cuidados e ajeitando a postura,
Bartolomeu recebeu em seus braços uma criança. E ao lado de Neusa, também com
outra criança no braço, tiraram fotos, riram e fizeram rir.
Continuamos pelo
hospital. Chegamos então num quarto em que a enfermeira comandava o espetáculo,
e a principal atração daquela manhã era tomar injeção na bunda! E ela disse que
se nós entrássemos no quarto, nós iríamos tomar uma injeção na bunda também! Bartolomeu
e Neusa ficaram com medo, mas o clima daquele quarto tão cheio de gente era de
leveza, era de risada. Descobrimos que tomar injeção na bunda era um programa
de família, você leva pai, mãe, filho, sobrinho, todo mundo! As pessoas faziam
até fila pra tomar injeção na bunda! Juro! Sei não, hein. Neusa e Bartolomeu
não ousaram entrar, e ficaram só ameaçando o tempo inteiro, botavam um pé pra
dentro do quarto, mas quando a enfermeira se virava pra ver se a gente tinha
entrado, prontamente colocávamos o pé pra fora!
Desde que
entrei na UPI, emagreci bastante, e o figurino que deveria realçar nossos
defeitos – a pança que ficava pendurada foi em boa parte embora. Por causa
disso, hoje o meu figurino realça outra coisa, que é a magreza. Hoje, o
figurino está um pouco mais folgado e isso levou a uma situação engraçada. Uma das
mães disse que tava vendo o cofrinho de Bartolomeu. Nossa, como fiquei com
vergonha! Mas a vergonha foi parte de jogo também. Bartolomeu começou a andar
apenas de costas pra parede, conversar de costas pra parede.
Encontramos dois
jogos que foram desafiadores. Em um deles, joguei bastante com a rejeição de
uma das mães por Bartolomeu. A encontramos no corredor e ela só queria que o
seu filho olhasse e jogasse com Neusa, e só me chamava de feio. Mas esse
discurso foi a nossa porta de entrada. A criança ficava curiosa pra me
conhecer, pra me olhar, e a partir daí conseguimos um convite para entrar no
quarto e jogar com os outros pacientes. O encontro seguinte foi bem mais
difícil porque foi uma rejeição por um profissional de saúde. Frequentemente ele
passava por nós nos corredores, virava o rosto, cobria-o e murmurava “misericórdia”.
A princípio, eu achei que aquilo era a sua forma de brincar com a gente, e
achei que era apenas outro “jogo de rejeição”, e levei bem na brincadeira. Só que
em outro momento, enquanto Neusa e Bartolomeu estavam no corredor, fazendo um
jogo com várias pessoas, recebemos uma advertência “Isso aqui não é feira
pública não”. E aquilo baixou nossa energia, aquilo quebrou nosso jogo, e
finalizamos nosso jogo naquele momento e partimos para encerrar nossa atuação. No
caminho de saída, fomos abordados por ele, que novamente implicou comigo, mas
que estabeleceu um contato muito amigável com Neusa e ainda nos recomendou para
visitar um paciente. Talvez tudo que ele tenha feito tenha sido brincadeira,
mas foi difícil ler aquilo naquele momento, e repreensão por parte de um
profissional de saúde eu levo a sério, acho que estou atrapalhando o serviço do
hospital.
Enfim, o
quarto final foi bem difícil. A criança estava bem doente, prefiro não
descrever o seu quadro clínico, mas não foi possível encontrar ninguém, porque
os pais estavam muito ocupados no cuidado da criança. Reconhecemos nosso limite
como palhaço e partimos.
No geral, foi uma atuação muito boa, e mais uma vez, sinto que estou
crescendo como palhaço. Quando apesar de tudo que está acontecendo na minha
vida pessoal, a minha expressão e desenvoltura como palhaço está cada vez
melhor e me fazendo muito bem.
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