sábado, 13 de junho de 2015

Bartolomeu Barbudo – Hospital Dom Malan – 13/06/2015


Nesta manhã, fomos eu e Vivi Manteiguinha. Começamos na recepção do hospital organizando a nova modalidade esportiva que estreará na Olimpíada do Rio em 2016: a corrida dos 10 centímetros. É uma corrida que foi especialmente planejada para o clima quente desse nosso sertão, e o mais difícil e manter a atenção pra não queimar a largada!

A ala de oncologia sempre reserva momentos difíceis. O contato é difícil, o sofrimento é onipresente. É complicado chegar lá no começo da atuação, enquanto nossa energia tá subindo devagarzinho ainda, e a gente pode se abalar muito com o que vê, e é complicado chegar do meio pro fim da atuação, quando nossa energia está muito alta e podemos chegar muito ativos num ambiente que precisa de uma sutileza maior. Tivemos um encontro muito bom, com uma senhora, que estava sozinha no quarto enquanto as outras pacientes que dividiam o quarto com ela estavam se submetendo à cirurgias. Uma conversa muito bonita se desenvolveu, sobre propósito de vida, sobre servir, honestidade, sobre fé. Eu fico emocionado quando as pessoas vêem seriedade no palhaço, e sentem liberdade para conversar coisas sérias e se aprofundar. Eu gosto bastante dos jogos e das risadas, mas são esses encontros que me fazem sentir clown de verdade. São encontros como esse que me fazem sentir de verdade. Que me tornam mais aberto a ouvir, que me liberta dos meus preconceitos e me deixa livre para ouvir novas idéias. E é um carinho imenso que eu sinto na hora da despedida, quando a gente ouve um “Mas já vão? Eu gostei tanto desta conversa.”

Me divirto bastante com o começo devagarzinho de cada jogo em cada quarto, aqueles primeiros instantes de estabelecer contato, cativar o outro pela janela, fixar olhar em olhar, sem palavra nenhuma. Eu adoro como a gente pode começar esses jogos pela janela. Percebi que isso foi muito importante para que eu conseguisse me expressar cada vez melhor como clown, e sei lá, tem alguma coisa diferente em como eu me mexo, em como minhas mãos vão prum lado e pro outro, em como eu ajo… este semestre estou percebendo o quanto estou crescendo como clown. Gosto do ambiente deste hospital. O Dom Malan me faz sentir parte da equipe de saúde, me sinto integrado com a equipe de saúde, com a equipe administrativa, com os profissionais de limpeza, me sinto no meu espaço, acolhido.

Vários outros jogos bons foram formados: Bartolomeu, já lindo e gostoso, estava em busca de uma namorada, mostrou como é que se dança romântico com uma vassoura, pediu dicas de moda, de como cortar o cabelo, e a personal stylist Vivi esteve sempre junta, mas teve um momento que sei não, hein, acho que tava rolando um algo mais quando ela mostrou um ciuminho, rs. Encontramos uma dançarina e cantora melhor que a Joelma, encontramos uma cantora famosa que se disfarçava de touca e máscara no hospital para fugir dos paparazzis, aprendemos a fazer exercícios de agachamento com um menino de 2 anos, fomos o amuleto da sorte para uma paciente ter alta, e pedimos pra ela passar um pouco dessa sorte pra gente e nos dissesse os números da megasena.

E no final da atuação, depois de baixar o nariz, meu sentimento maior foi de gratidão. Às minhas melhores companheiras, Vivi Manteiguinha, Jasmin Jambalaia e Neusa Camponesa, e a todo mundo com quem já dividi corredores de hospital nesse pouco mais de um ano que estou na UPI. Desde as minhas primeiras melhores companheiras, Pietra Fofolete e Chiquita Pequena Sombra, as monitoras, e o meu melhor companheiro Testa das Frituras, que nasceu palhaço junto comigo e a quem eu devo muito sobre como eu cresci como Bartolomeu Barbudo. E depois vieram tantas companhias maravilhosas: Rosinha das Alturas, Hércules do Encanto, Inês Tamborete, Mariqueta Boabunda, Esperança Sambacanção, Rebeca Pocajanta, Lindonildo Varão, Ramon del Tamborete, Jusefina Pernas Finas, Toquinho de Geres, Pedrinho Palito. Uma palhaça com quem ainda não pude dividir os corredores de hospital, mas que emociona muito na formação e aprofundamentos, a Frufruta Doce. E dois palhaços que eu não tive a oportunidade de dividir os corredores de hospital, e não fazem mais parte do projeto, mas que foram fundamentais em me incentivar durante toda a oficina de formação e a me apoiar a fazer parte do projeto, o Zeca Aventureiro e o Joaquim Marmiteiro. Sem vocês, não sei se estaria na UPI. Gratidão também a todas as profissionais que encontramos durante nosso trabalho: médicas, enfermeiras, técnicas de enfermagem, farmacêuticas, secretárias, profissionais de limpeza, seguranças, apoio administrativo. Faço parte da UPI por vocês também. Espero que eu esteja fazendo um bom trabalho.

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