Nesta manhã, fomos eu e Vivi
Manteiguinha. Começamos na recepção do hospital organizando a nova modalidade
esportiva que estreará na Olimpíada do Rio em 2016: a corrida dos 10
centímetros. É uma corrida que foi especialmente planejada para o clima quente
desse nosso sertão, e o mais difícil e manter a atenção pra não queimar a
largada!
A ala de oncologia sempre reserva
momentos difíceis. O contato é difícil, o sofrimento é onipresente. É complicado
chegar lá no começo da atuação, enquanto nossa energia tá subindo devagarzinho
ainda, e a gente pode se abalar muito com o que vê, e é complicado chegar do
meio pro fim da atuação, quando nossa energia está muito alta e podemos chegar
muito ativos num ambiente que precisa de uma sutileza maior. Tivemos um
encontro muito bom, com uma senhora, que estava sozinha no quarto enquanto as
outras pacientes que dividiam o quarto com ela estavam se submetendo à
cirurgias. Uma conversa muito bonita se desenvolveu, sobre propósito de vida,
sobre servir, honestidade, sobre fé. Eu fico emocionado quando as pessoas vêem
seriedade no palhaço, e sentem liberdade para conversar coisas sérias e se
aprofundar. Eu gosto bastante dos jogos e das risadas, mas são esses encontros
que me fazem sentir clown de verdade. São encontros como esse que me fazem
sentir de verdade. Que me tornam mais aberto a ouvir, que me liberta dos meus
preconceitos e me deixa livre para ouvir novas idéias. E é um carinho imenso
que eu sinto na hora da despedida, quando a gente ouve um “Mas já vão? Eu
gostei tanto desta conversa.”
Me divirto bastante com o começo
devagarzinho de cada jogo em cada quarto, aqueles primeiros instantes de
estabelecer contato, cativar o outro pela janela, fixar olhar em olhar, sem
palavra nenhuma. Eu adoro como a gente pode começar esses jogos pela janela. Percebi
que isso foi muito importante para que eu conseguisse me expressar cada vez
melhor como clown, e sei lá, tem alguma coisa diferente em como eu me mexo, em
como minhas mãos vão prum lado e pro outro, em como eu ajo… este semestre estou
percebendo o quanto estou crescendo como clown. Gosto do ambiente deste
hospital. O Dom Malan me faz sentir parte da equipe de saúde, me sinto
integrado com a equipe de saúde, com a equipe administrativa, com os
profissionais de limpeza, me sinto no meu espaço, acolhido.
Vários outros jogos bons foram
formados: Bartolomeu, já lindo e gostoso, estava em busca de uma namorada,
mostrou como é que se dança romântico com uma vassoura, pediu dicas de moda, de
como cortar o cabelo, e a personal stylist Vivi esteve sempre junta, mas teve
um momento que sei não, hein, acho que tava rolando um algo mais quando ela
mostrou um ciuminho, rs. Encontramos uma dançarina e cantora melhor que a
Joelma, encontramos uma cantora famosa que se disfarçava de touca e máscara no
hospital para fugir dos paparazzis, aprendemos a fazer exercícios de agachamento
com um menino de 2 anos, fomos o amuleto da sorte para uma paciente ter alta, e
pedimos pra ela passar um pouco dessa sorte pra gente e nos dissesse os números
da megasena.
E no final da atuação, depois de
baixar o nariz, meu sentimento maior foi de gratidão. Às minhas melhores
companheiras, Vivi Manteiguinha, Jasmin Jambalaia e Neusa Camponesa, e a todo
mundo com quem já dividi corredores de hospital nesse pouco mais de um ano que
estou na UPI. Desde as minhas primeiras melhores companheiras, Pietra Fofolete
e Chiquita Pequena Sombra, as monitoras, e o meu melhor companheiro Testa das
Frituras, que nasceu palhaço junto comigo e a quem eu devo muito sobre como eu
cresci como Bartolomeu Barbudo. E depois vieram tantas companhias maravilhosas:
Rosinha das Alturas, Hércules do Encanto, Inês Tamborete, Mariqueta Boabunda, Esperança
Sambacanção, Rebeca Pocajanta, Lindonildo Varão, Ramon del Tamborete, Jusefina
Pernas Finas, Toquinho de Geres, Pedrinho Palito. Uma palhaça com quem ainda
não pude dividir os corredores de hospital, mas que emociona muito na formação
e aprofundamentos, a Frufruta Doce. E dois palhaços que eu não tive a
oportunidade de dividir os corredores de hospital, e não fazem mais parte do
projeto, mas que foram fundamentais em me incentivar durante toda a oficina de
formação e a me apoiar a fazer parte do projeto, o Zeca Aventureiro e o Joaquim
Marmiteiro. Sem vocês, não sei se estaria na UPI. Gratidão também a todas as
profissionais que encontramos durante nosso trabalho: médicas, enfermeiras,
técnicas de enfermagem, farmacêuticas, secretárias, profissionais de limpeza,
seguranças, apoio administrativo. Faço parte da UPI por vocês também. Espero que eu esteja fazendo um bom trabalho.
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