O cuidado é uma via
dupla!
Nesta terça tudo me levava a não atuar: cansaço pós-clínica,
gripe, afonia e muitas coisas me desmotivavam a me doar e atuar. Mas, como nada
é do jeito que queremos e como temos que, mesmo com as adversidades, resistir à
tentação da monotonia, resolvi atuar. Jamaisvista adormecida precisava falar
(mesmo sem fala).
E foi assim, Jamaisvista e Rosinha – sua companheira fiel –
nos corredores do terceiro andar do HUT encontrando olhares e estabelecendo
contato, doando. No início foi difícil, o fato de estar sem voz é muito
limitante mas te faz crescer como clown, te ensina que o corpo fala. E o corpo
falou muuuito, muitas danças e conquistas; e Rosinha tagarelando como louca,
para duas.
Antes de continuar esse diário preciso fazer um adendo:
estou imensamente feliz de ser Sam minha mais nova melhor companheira do mundo;
não que as atuações estejam sendo perfeitas porque às vezes cometemos erros,
mas porque consigo fechar o olho e deixa-la me guiar. Confiança!
Proseguindo com a atuação, fiquei impressionada com uma
situação maravilhosa que nos ocorreu: um senhor acamado disse que era palhaço e
começou a nos assustar, a gritar e dar risadas macabras (palhaço?) e
Jamaisvista e Rosinha se assustaram e saíram correndo. No mesmo instante uma
senhora correu até a gente e nos abraçou, nos protegeu, nos pediu desculpas
pelo ocorrido e brigou com o senhor acamado. Aquilo era uma atuação, corremos
porque entramos no jogo do senhor, mas a senhora se sentiu no dever de nos
proteger, como uma mãe que protege sua cria; me senti tão amada naquele
momento, tive certeza de que nem todos pensam que clown é pra ser “feito de
gato e sapato”. Amei sem conhece-la.
Percebi que realmente o cuidado é duplo, cuidamos do outro
tentando fazer ele esquecer por instantes da condição que está e ele faz o
mesmo conosco, nos envolve.
Obs: e só pra constar, foi DELICIOSO atuar sem usar a voz,
apesar das dificuldades acordei o corpo e dancei conforme a música.
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