Nesta semana,
com Lindonildo Varão, vi e participei de muitos momentos bonitos. Desde o
comecinho da atuação.
Primeiro, uma
das coisas que eu mais gosto e que me comove é quando os profissionais de saúde
entram no jogo com a gente e nos recomendam. Pra mim, é o melhor cartão de
visita pro paciente. Chegar num quarto assim, recomendado pelas pessoas que
cuidam do paciente, é uma coisa linda. Eu sinto a confiança dos profissionais
no nosso projeto e no nosso trabalho, eu sinto um reforço de que a gente tá no
caminho certo e fazendo algo bom pras pessoas que ficam naquele local. Eu aprendi
que é sempre bom conversar com os profissionais antes de começar a atuação, nos
apresentar, apresentar o projeto. E no final, agradecer pela confiança e nos
despedir. Isso é importante porque, por mais que a direção do hospital tenha autorizado
a execução do nosso projeto no hospital, muitas vezes os profissionais não têm
conhecimento de quem nós somos, eles, que ficam o dia inteiro no setor. Então temos
que fazer o trabalho de formiguinha, mas vale a pena.
Lindonildo fez
um dos jogos mais lindos que eu já vi no hospital. Ele me assustou um pouco,
porque eu não sabia o que ele estava planejando, mas foi uma lição pra mim de
confiar no meu melhor companheiro do mundo. A acompanhante de uma das pacientes
pediu o nosso nariz pra levar para a filha pequena dela que estava em casa. Nós
não poderíamos dar o nosso nariz, mas ela insistiu. Muito. Até que Lindonildo
disse que iria arranjar um nariz pra ela. Que ela aguardasse só mais um pouco. E
saímos, continuamos os jogos pelos outros quartos até que encontramos esta mulher
novamente, que estava no telefone com a filha e nos cobrou o nariz novamente. Ela
passou o telefone pra gente e pediu para conversarmos com a filha dela. Eu fiquei
assustado, pois não sabia como resolver a situação, mas Lindonildo continuou
firme e impassível dizendo que iria arrumar um nariz vermelho para aquela
criança. Aí ele saiu, foi para o quarto onde nos trocamos e voltou de lá com o
seu primeiro nariz, aquele que ganhamos durante a nossa formação de palhaço. E o
entregou para a mãe da criança, falou com a menininha pelo telefone e pediu pra
ela cuidar muito bem do presente que estava enviando. Pra mim, o que Lindonildo
conseguiu com isso foi um cuidado integral: com a paciente, com a acompanhante
da paciente e com a filha da acompanhante fora do hospital, com quem também
tivemos contato. Foi uma das coisas mais lindas de se ver.
Uma das
pacientes que encontramos me lembrou muito a minha vó, que morreu há alguns
anos. Gostei muito de jogar com ela, foi muito divertido e foi muito bom
relembrar de coisas boas que minha vó fazia. O jeitinho de rir, de falar dos
vários filhos e netos, de falar com as pessoas… foi lindo. Me senti um pouco em
casa, um pouco de volta ao passado.
E um dos
momentos finais que me tocou, foi encontrar uma senhora que acompanhava o
tratamento da filha. Ela me viu e veio falar comigo, e lembrou que nós já
havíamos nos encontrado há alguns meses. E eu lembrei de tudo. O meu sentimento
foi de tristeza, porque vi um pouco do drama daquela senhora lutando contra a
doença da sua filha, e me senti um pouco parte do processo. Ela brincou com a
gente das outras vezes, sempre tentando descobrir nossa identidade, mas desta
vez, ela só queria conversar um pouco. E me marcou muito quando ela me encarou
com um olhar cansado e falou “minha filha é uma lutadora, né?”. Eu confirmei. Tive muita vontade de voltar lá
no outro dia, só pra conversar com ela, me apresentar como Dudu, e conhecer um
pouco mais da sua história e da filha, falar que a UPI é feita por estudantes
de saúde, o que era nosso objetivo, etc. Fazer o jogo fora do clown e promover
o encontro sem o nariz vermelho, sem o figurino, e dizer que eu me importo com
ela não só quando estou de palhaço, mas fora do palhaço também. Infezlimente,
não pude fazer isso porque adoeci bastante no dia seguinte e até hoje, enquanto
escrevo esse diário. Não sei quando ou se vou encontrá-la novamente.
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