segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Tina Gatínea, HUT, 12/09/2017

Saber ouvir, falar... saber o que falar e quando falar, o momento certo, o que conforta, o que nos traz a realidade? O silêncio dói, as palavras também. Mais uma vez todo esse dilema se faz presente em minha vida, a diferença é que dessa vez eu estava do lado oposto, o lado de que deveria levar algum conforto. E em todos os momentos que refleti sobre ser conselheira ou ouvinte, nunca me senti tão boa quanto muitas pessoas já foram comigo. Dessa vez, talvez não tenha conseguido ser também mas tentei, tentei estar disponível... escutei, falei. Dessa vez, sem muitos jogos, fui mais Lais e menos Tina e acho que o mesmo aconteceu com a fofa da Gigi Abacaxi, que por sinal foi uma ótima companhia. Dessa vez, os acompanhantes foram os protagonistas que, pelo menos naquele momento, ganharam as vozes e as atenções que, de certa forma, os dias no hospital e a sua entrega pelo seu enfermo lhes tiraram. Mas aquele nó acumulado na garganta precisava sair. Julia, minha vontade era de te abraçar porque houve momentos que me faltaram as palavras - me perdoa!-  mas eu sei o que tu passas. Eu te entendo quando você se sente incompetente por não fazer Seu Antônio comer ou falar. Julia tu precisa entender que teu amor e cuidado são as únicas coisas que tu podes oferecer e isso é suficiente - eu também preciso saber disso! - e que seu "veinho" consegue sentir toda sua dedicação. Ainda naquele quarto, também me vi na acompanhante de Seu Reginaldo, que bastante alterado devido, certamente, à sua condição machucava sua filha com palavras duras. Saí de lá sem saber o nome dela, mas se pudesse, falaria que a entenderia, que sentia sua dor ao ver seu pai e não reconhecendo-o, pois parece que a doença e toda sua condição por muitas vezes toma conta da pessoa, usurpando-a e a deixando irreconhecível. Mas seu olhar denunciava susto e revolta, como quem só quisesse sair de lá, ficar sozinha, cair no choro, ficar tentando achar o por quê daquilo acontecer e, consequentemente, falhar... Depois veio Seu Epifânio e  sua filha Cristina. Naquele momento veio um afago e uma nostalgia que me fez relembrar gratidão em meio a situações difíceis. Sorrisos foram arrancados ao ver como ela falava do seu pai, ele da filha e os dois da vida, como quem já tivessem passado por muitas coisas com muita força e humildade para aprender...
Enfim, foi um dia que pude ver e ouvir pessoas dando vozes a sentimentos que conheço e que talvez por falta de oportunidade ou por também não saber o que e como falar ainda formam nós na garganta. Embora as palavras pareçam fugir e não me sinta uma boa ouvinte, estive lá e pude ouvi-las,  pude entendê-las, me senti ainda mais humana e, ainda que já soubesse que existiam, foi diferente me ouvir em outras vozes. Foi um sentimento ainda mais forte de unidade com aquelas pessoas. Espero que elas, pelo menos naquele momento de protagonismo, tenham se sentido confortadas e aliviado alguns dos muitos nós na garganta. Infelizmente, é inevitável os dias difíceis mas todos eles são enfrentados com coragem. Aos acompanhantes, por mais incrédulo que seja, temos que acreditar que fizemos/fazemos tudo que estava/está em nosso alcance. Eles, nossos enfermos, sentiram, sentem, sentirão nosso cuidado, nossa compaixão, nossa entrega. Nesses momentos somos suficientes.



                                                                Gigi Abacaxi e Tina Gatínea
                                                           
                                                            "Tanto faz se é sorrindo que se desfaz
                                                              Todo nó da garganta ..."


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