sábado, 9 de junho de 2012

Lisbela Duracell, 03-05-2012




Eu confesso que estava nervosa. Com um medo retado de Ana atrapalhar Lisbela. As meninas tinham criado uma expectativa enorme para a “primeira vez” no hospital e eu como “monitora”. E apesar de contabilizar todas as variáveis que podem influenciar nesse momento, como a falta de receptividade, a falta de abertura, a possível não disponibilidade delas ou minha ou do pessoal nos leitos e corredores e enfermaria, eu tinha tomado para mim a responsabilidade de ser muito bom, de segurar o jogo, de ser o melhor possível para que elas soubessem o quanto são boas, lindonas. E elas me impressionaram. Eu era a mãe orgulhosa. Acho que assumi isso fora do clown também, com todos eles. Assumi um cuidado com essa “primeira vez” de vários grupos e compartilhando dessa preocupação com outros monitores.

Foi uma noite de poucos quartos. Foi uma noite de muita dedicação. No primeiro, encontramos uma mulher que queria doces, outra que tinha doces, outra que queria frango assado e muitas marmitas com sopa. Nesse dia o hotel estava com um péssimo atendimento. Colhemos as queixas e nos comprometemos a falar com o pessoal do cardápio.

Nessa procura continuou no outro quarto. Encontramos um cara muito massa. Comprava e fazia muitos jogos. Se não me engano eram três “leitos”: no primeiro tinha um senhor com as pernas muito, muito, ABERTAS, coberto com um lençol branco fino. Estava ao lado da esposa. Lógico que comentamos sobre esse sistema de ventilação das partes. Ainda chegou lá o médico falando com ele. Tirei onda sobre o sistema com o médico que entrou no jogo. Menina, pintei. Ainda subi numa escadinha que tinha do lado, e fiquei falando sobre isso de lá de cima. Muito bom. [Gente, aos que não sabem, tenho miopia e astigmatismo, ou seja, não enxergo muito bem de longe, ou seja de novo, não tenho a menor ideia se a pessoa esta dormindo ou acordada. Conto sempre com minhas companheiras(os) ou tenho que ir bem perto – invento um jogo para essa aproximação também. Por que explicar tudo isso?? Bom, o senhor das pernas abertas estava nu por baixo do lençol e de acordo com minhas companheiras que comentaram sobre isso depois, dava pra ver tudo... EU NÃO VI NADAAAAA!! Imagine minha gente, estou falando para todos os companheiros, tem que salvar o amiguinho numa situação dessas. Claro que não aconteceu nada de grave e possivelmente inventaríamos um jogo caso houvesse, mas temos que ter cuidado...] O vizinho dele estava de turbante e era o cara de vários jogos. Muitas risadas, mas tive que engravidar de uma criança quadrada e minhas amigas lindas encararam a realidade da pouca beleza (brincadeirinha dele). Os jogos nos levaram para o terceiro vizinho, numa noite não muito boa. Me mandou ver se ele estava na esquina. Eu fui para a esquina, mas ele não estava lá. Eu avise, mas ele não acreditou. De boa, muito pouca fé.

Fomos para o quarto da ópera. Foi lindo. Tinha uma mulher sentadinha de costas para a porta, fazendo a unha do marido que estava deitadão lá, na maior. Cheguei quietinha, silenciosamente e fiquei paradinha. Quando ela olhou para o lado e viu meu rosto tão perto, levou um susto e caiu na risada. Eu confesso, eu também não resisti. Olhamos para o lado e tinha uma menina deitada em um colchão no chão, lendo... Responsável pela manutenção da produção cultural do quarto. Do lado, um rapaz amarrado e falando com ele o acompanhante. O rapaz estava angustiado e gritava muito. Para acalmá-lo começamos a cantar canções de ninar:
- “Boi, boi, boi, boi da cara preta...”
- “NÃO”
- Beleza. “Durma medo meu [...]”
- “NÃO”
- Beleza. Lançamos um pagodão no ritmo de canção de ninar... a galera deu muita risada.

Ele se acalmou um pouco e fomos conhecer o outro do quarto. Quando entramos ele estava se escondeu com um paninho no rosto. Só que muitas pessoas no quarto sinalizavam que ele é que estava precisando. Fantástico! Foi um presente, literalmente. Seu Etvaldo (estou divulgando com autorização dele) comprou muito os jogos e de forma muito bela. Até Lorena que estava paradinha na porta entrou no jogo. Um doce. Tínhamos excedido no horário e entrou no quarto Pinic, Likita e Zé avisando que o ônibus estava de saída... tínhamos que ir, só tínhamos um passe naquela noite. Massssssssssssssss, no meio do caminho de volta, encontrei um carrinho daqueles que carregam alimentos ou que apoia um suporte que apoia os alimentos ou lençóis e um rapaz do lado dele. Olhei para o rapaz, olhei para o carrinho, olhei para o rapaz. Ele olhou para o carrinho, olhou para mim, olhou para o carrinho e olhou pra mim e fez um “sim” com a cabeça. Não acreditei: ele permitiu que eu subisse no carrinho e começou a puxar o carrinho e me carregar pelo corredor. Meus companheiros vinham atrás... o rapaz fez uma curva lá na ponta e voltou na intenção de entrar no elevador. Perguntei se podia. Ele: pode!!. Continuei no carrinho e o rapaz, eu e meus companheiros descemos para o primeiro andar. FANTÁSTICOOOOOOO!!!

Sai preenchida. Muito injusto isso: recebi muito mais do que dei. Mas como foi belo estar com vocês meninas e estar com todos eles, nos mais diversos estados de disponibilidade.

Acho que, missão cumprida.










































































































































































































































































































































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