Carla Araújo, dentre muitas outras
coisas, é uma pessoa ateia. Ela não consegue acreditar em deus, é simples
assim. Suas convicções não lhe permitem por em um plano acima do dela alguém
com poderes nos quais ela não acredita. Suas tristezas raras vezes a fazem
pensar no impossível. Sua fé dificilmente vai além da humanidade.
Mariqueta Boabunda, dentre muitas
outras coisas, é tudo. E, vejam, ela acredita naquilo que o momento pede para
que ela acredite. E acredita assim, piamente, como quem nasceu acreditando.
No dia 31 de novembro de 2014,
Mariqueta ensinou umas 10 pessoas à rezar o Credo, em uma grande roda, em um
quarto cinzento de um hospital. Ela tentou fazer com que uma acompanhante se
apoiasse em sua fé, seu único conforto diante de um marido hospitalizado. Por
fim, Mariqueta leu um versículo aleatório da bíblia para um ávido adorador das
palavras.
Poucas vezes na vida "deus" tem algum significado para
mim. Desta vez, entretanto, me tocou a forma como lidei com as situações.
Questionei-me muitas vezes se eu não estaria agindo com uma certa hipocrisia,
minimizando as dores alheias com a minha "fé" que, de fato, não
existe. Depois de alguns dias pensando nisso, percebi que é para isso que
Mariqueta existe: para que eu seja livre para ser muitas coisas, para que eu
seja livre para ser o que o outro precisar que eu seja naquele momento.
Sem amarras, sem nós, com um nariz vermelhinho, podemos
ser tudo.
Carla Araújo, melhor conhecida como Mariqueta Boabunda.
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