A parte boa de escrever diários depois de muito tempo é que os momentos marcantes ficam. Só as boas lembrança fazem parte da memórias.Depois de muito tempo, com 2 diários atrasados e 2 semanas sem atuar, me dar conta em lembrar do único momento que realmente ficou é algo sem palavras.
Em suma, eu poderia descrever como uma atuação qualquer, em uma terça qualquer, com uma pessoa qualquer, no mesmo hospital de sempre, com a mesma máscara de sempre. Foram risadas, sorrisos,o sim para os jogos, a aceitação, o humor, o brilho,o toque, o espelho, o olhar. Uma atuação,como outra qualquer, com a mesma animação que tento fazer com que Teka leve a cada cantinho que passa. E ainda assim, o que fez esta atuação ser diferente? Nada. Na atuação, Nada
Era um casal, em um quarto de hospital, cheios de vontades de sair de lá, que aceitaram um doce, que brincaram de espelho, que ele era professor de teatro, que eu peguei o buquê, que ele era bom partido mas seria melhor inteiro. Confuso? Começaremos outra vez: era um casal dentro de um quarto, que ela aceitou um doce, que ele brincou de teatro, que Mariqueta se viu no espelho, que o marido de Teka fugiu antes mesmo de se casar, Teka era o Branco e Mariqueta,o Augusto; ou era o contrário? Teka era o Augusto e Mariqueta era o Branco?
O ápice desta terça tão igual a todas as outras foi o que aconteceu depois dela. Não foi um momento especial para Teka, ela mal sabia o que foi tudo aquilo; mas foi para mim, Andreza, que após conversar com os melhores companheiros do mundo descobriu algo muito especial. Com conversas e sentimentos aflorados após a atuação,Tathy- que estava de observadora neste dia- comentou conosco que aquela mulher do quarto, sim, aquela que aceitou o doce, que deu risada, que jogou o buquê, tinha um tremendo medo de palhaços. Sim, de nós mesmos, daqueles seres portadores do nariz vermelho. E não, Teka não fez a menor idéia de que aquela moça tinha medo dela.
Não sei exatamente o motivo, mas saber deste medo de palhaço mudou toda uma visão que tinha sobre atuar e de como as pessoas podem superar seus medos, assim, tão delicadamente, de forma tal que nem nos damos conta. Cada ser é único nas batalhas que trava durante o vida e muitas delas nem são captadas por nossos olhares. Julgamos e criticamos muitas vezes sem saber o que passa com os outros e não nos damos conta de quantas e quantas vezes aquelas pessoas já caíram e se levantaram em um único dia.
Saber disto foi sim especial. Talvez não tenha sido um momento marcante para Teka, talvez um momento marcante para ela ainda não tenha chegado. Mas sim, para mim, saber disto fez muita diferença. Se me perguntassem antes o que eu faria se encontrasse uma pessoa com medo de palhaços na hora da atuação, provavelmente responderia “Não sei”. Hoje, a reposta seria totalmente diferente “Eu continuaria atuando até onde esta pessoa me deixar ir”, responderia.
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