Estávamos prestes a sair de um dos quartos, quando de fininho
vimos um senhor bem encolhido em uma das camas. Semblante triste... Olhava para
as nuvens através da janela grande, meio que sem saber o que fazer. Foi uma transição
muito brusca para mim. Porque naquele mesmo quarto, há poucos minutos estávamos
rindo e brincando quando de repente vimos esse senhor lá no cantinho e de longe
se podia sentir o peso da tristeza dele. Meu corpo travou quando uma das pacientes
disse “Ele tá assim porque vão amputar a perna dele amanhã.” Confesso que eu
não sabia como reagir. As atuações em âmbito hospitalar são bem diferentes do
que aprendemos nas reuniões, oficinas...
Mesmo havendo no cerne delas um pedacinho de semelhança, o que distingue
ambas as situações é o fino tecido de realidade, que naquele momento não era
tão leve e translúcido assim. Ele pesava. E eu, paralisada no meio do quarto
durante alguns segundos que internamente pareceram horas para mim. Gigi me
puxou e fomos de encontro ao paciente. Eu pensei ingenuamente: “Não posso
entrar num jogo com um paciente em uma situação assim! Provavelmente esse é um
dos piores momentos da vida dele e eu não quero torná-lo pior.”
E para minha surpresa, ela conversou com aquele homem. De ser humano para
ser humano. Com sensibilidade, atenção, empatia. Não olhou para ele de um
patamar superior.
Sei que parece bobagem eu ter ficado tão surpresa com isso,
mas naquele momento eu projetei situações negativas que já vi acontecer com
pacientes em outros lugares e simplesmente não sabia como reagir, pois, além
disso, até agora, mesmo já tendo visitado a área oncológica pediátrica, nunca
tinha sentido um peso como aquele. Foi diferente. Aquilo que eu sempre ouvi nas
reuniões sobre o que é legitimamente ser um clown se concretizou naquele
momento em meu coração:
Você não precisa ser engraçado o tempo todo. Não precisa ser o centro das atenções. O clown está em você e você está no clown. Ele é humano, ele chora com as dores alheias também. E essa é a primeira lição do dia.
Ficamos lá. Disponíveis. Apenas isso. Para que ele conversasse e nós
ouvíssemos. E mesmo não se abrindo muito conosco, eu entendi que ele nos
ofereceu o que podia nos dar naquele momento e que só o fato de mostrarmos
interesse nele já foi algo de valor no dia daquele homem. E essa foi a minha
segunda lição do dia.
E por esses aprendizados e por ter companheiros que me ensinam tanto,
estou grata.
Nenhum comentário:
Postar um comentário