quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Vivi Ajante, 1º andar HUT, 12/12/18



             Coisas que aprendi com a Gigi Abacaxi:

           Estávamos prestes a sair de um dos quartos, quando de fininho vimos um senhor bem encolhido em uma das camas. Semblante triste... Olhava para as nuvens através da janela grande, meio que sem saber o que fazer. Foi uma transição muito brusca para mim. Porque naquele mesmo quarto, há poucos minutos estávamos rindo e brincando quando de repente vimos esse senhor lá no cantinho e de longe se podia sentir o peso da tristeza dele. Meu corpo travou quando uma das pacientes disse “Ele tá assim porque vão amputar a perna dele amanhã.” Confesso que eu não sabia como reagir. As atuações em âmbito hospitalar são bem diferentes do que aprendemos nas reuniões, oficinas...
                 Mesmo havendo no cerne delas um pedacinho de semelhança, o que distingue ambas as situações é o fino tecido de realidade, que naquele momento não era tão leve e translúcido assim. Ele pesava. E eu, paralisada no meio do quarto durante alguns segundos que internamente pareceram horas para mim. Gigi me puxou e fomos de encontro ao paciente. Eu pensei ingenuamente: “Não posso entrar num jogo com um paciente em uma situação assim! Provavelmente esse é um dos piores momentos da vida dele e eu não quero torná-lo pior.” 
E para minha surpresa, ela conversou com aquele homem. De ser humano para ser humano. Com sensibilidade, atenção, empatia. Não olhou para ele de um patamar superior. 
                  Sei que parece bobagem eu ter ficado tão surpresa com isso, mas naquele momento eu projetei situações negativas que já vi acontecer com pacientes em outros lugares e simplesmente não sabia como reagir, pois, além disso, até agora, mesmo já tendo visitado a área oncológica pediátrica, nunca tinha sentido um peso como aquele. Foi diferente. Aquilo que eu sempre ouvi nas reuniões sobre o que é legitimamente ser um clown se concretizou naquele momento em meu coração:

Você não precisa ser engraçado o tempo todo. Não precisa ser o centro das atenções. O clown está em você e você está no clown. Ele é humano, ele chora com as dores alheias também. E essa é a primeira lição do dia.


               Ficamos lá. Disponíveis. Apenas isso. Para que ele conversasse e nós ouvíssemos. E mesmo não se abrindo muito conosco, eu entendi que ele nos ofereceu o que podia nos dar naquele momento e que só o fato de mostrarmos interesse nele já foi algo de valor no dia daquele homem. E essa foi a minha segunda lição do dia.
E por esses aprendizados e por ter companheiros que me ensinam tanto, estou grata.


                         A melhor das melhores companheiras do mundo. 💓🔴

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