Quem quer
limonada? Tenho limões de sobra!
A atuação desse
dia inicia-se com a melhor companheira do mundo Tathy, com uma mistura de
ansiedade e cansaço e um sinal divino de que aquele dia era especial. Isso
mesmo, estava chovendo em Petrolina. No entanto, a chuva não sinalizou uma
atuação maravilhosa, mas sim uma com altos e baixos, que espero que tenham sido
proveitosos no meu processo de formação de Clown.
No primeiro
quarto já chegamos fazendo um jogo com um gaúcho que bateu de moto numa placa e
com um cara de Afrânio que foi “pego” por uma mulher na calçada. O conhecimento
de que eles nadavam pra chegar numa ilha, que foram soldados e outras coisas
possibilitaram jogos massas. Porém, viria o primeiro limão. Os dois cegos
atuando, não viram um paciente no banheiro, que estava com a perna pendurada e
passando mal. Logo chega um acompanhante e dispara: “acho legal e tudo vocês
com essa vontade de animar, mas vocês deviam ter consciência da condição dos
pacientes. O rapaz está passando mal ali do lado e vocês fazendo brincadeira?”
Foi tão difícil ouvir isso, que foi impossível transformar a queda num passo de
dança, só pude dizer que ia buscar a enfermeira que eles tanto esperavam.
Em seguida
chegamos ao quarto ápice da noite. Fomos logo criando jogos com todas as
disponibilidades que nos eram ofertadas. Fizemos concurso de músicas, de dança,
e num instante já tinha os clowns, acompanhantes desse e de outros quartos, e os
pacientes nas coreografias de forró, no ritmo de Amado Batista, e até de
Calypso. O agradecimento constante das pacientes era como uma recompensa rara
para nossa dedicação.
Mas como a noite
era dos limões, a paciente que estava dançando conosco no último quarto, nos
induziu a ir ao quarto do marido dela que estava em frente, porém o marido dela
nos deu as costas e fingiu dormir. Mesmo assim, o outro paciente queria jogar.
Com a Capoeira de Angola conseguimos manter o jogo em alta.
Em seguida,
encontramos um paciente internado há 90 dias e um jovem que num acidente perdeu
1 membro superior e o pé. Nesse cenário
complicado conseguimos usar a energia da cultura baiana para deixar o jogo em
alta. Com o caruru, o Pelourinho, e os irmãos Cosme e Damião fizemos bons
jogos.
Em seguida,
outro limão! Os pacientes daquele quarto, no dia que chegaram ao HUT, viram um
circo que havia ao lado desse hospital e garantiam que éramos palhaços do
circo. Não teve jeito, saímos de á como palhaços de circo. No entanto, alguns
jogos ainda foram realizados com outro paciente e até com os que garantiam que
éramos do circo. Rosinha e umas histórias de gatos, e um biscoito tostado pelo
vapor do chá foram ideias surgidas ali.
Quando já
estávamos indo embora, creio que o maior limão da noite. Uma mulher, no escuro,
falando no celular e olhando para um vidro de uma das janelas que assumia a
função de espelho, não conseguiu ver, quando passei por trás dela, o reflexo
daquele olhar de criança do curso de formação. Ela só disse, com voz dura e
pausada: “Saia-daqui-por-favor-que-tenho-medo-de-você”! Essas palavras
chacoalharam dentro de mim, e ai o estado de clown caiu totalmente. Só queria
descer a máscara e ir refletir.
No entanto,
ainda tinha uma funcionária que achamos quando estávamos já chegando no quarto
para descer a máscara que queria desabafar sobre a organização do HUT, e logo
assumimos o papel do palhaço de protestar. Conversamos sobre os atrasos de
salários e foi lindo ver o desabafo dela, e o alívio que ela sentiu depois. Ela
realmente precisava dizer aquilo a alguém.
Atuação difícil, mas como devo transformar a queda num passo de dança, vou utilizar os limões para o meu aprendizado!
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