terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Zeca Aventureiro - HUT - 29/11/2013

Quem quer limonada? Tenho limões de sobra!

A atuação desse dia inicia-se com a melhor companheira do mundo Tathy, com uma mistura de ansiedade e cansaço e um sinal divino de que aquele dia era especial. Isso mesmo, estava chovendo em Petrolina. No entanto, a chuva não sinalizou uma atuação maravilhosa, mas sim uma com altos e baixos, que espero que tenham sido proveitosos no meu processo de formação de Clown.

No primeiro quarto já chegamos fazendo um jogo com um gaúcho que bateu de moto numa placa e com um cara de Afrânio que foi “pego” por uma mulher na calçada. O conhecimento de que eles nadavam pra chegar numa ilha, que foram soldados e outras coisas possibilitaram jogos massas. Porém, viria o primeiro limão. Os dois cegos atuando, não viram um paciente no banheiro, que estava com a perna pendurada e passando mal. Logo chega um acompanhante e dispara: “acho legal e tudo vocês com essa vontade de animar, mas vocês deviam ter consciência da condição dos pacientes. O rapaz está passando mal ali do lado e vocês fazendo brincadeira?” Foi tão difícil ouvir isso, que foi impossível transformar a queda num passo de dança, só pude dizer que ia buscar a enfermeira que eles tanto esperavam.

Em seguida chegamos ao quarto ápice da noite. Fomos logo criando jogos com todas as disponibilidades que nos eram ofertadas. Fizemos concurso de músicas, de dança, e num instante já tinha os clowns, acompanhantes desse e de outros quartos, e os pacientes nas coreografias de forró, no ritmo de Amado Batista, e até de Calypso. O agradecimento constante das pacientes era como uma recompensa rara para nossa dedicação.

Mas como a noite era dos limões, a paciente que estava dançando conosco no último quarto, nos induziu a ir ao quarto do marido dela que estava em frente, porém o marido dela nos deu as costas e fingiu dormir. Mesmo assim, o outro paciente queria jogar. Com a Capoeira de Angola conseguimos manter o jogo em alta.

Em seguida, encontramos um paciente internado há 90 dias e um jovem que num acidente perdeu 1 membro superior  e o pé. Nesse cenário complicado conseguimos usar a energia da cultura baiana para deixar o jogo em alta. Com o caruru, o Pelourinho, e os irmãos Cosme e Damião fizemos bons jogos.
Em seguida, outro limão! Os pacientes daquele quarto, no dia que chegaram ao HUT, viram um circo que havia ao lado desse hospital e garantiam que éramos palhaços do circo. Não teve jeito, saímos de á como palhaços de circo. No entanto, alguns jogos ainda foram realizados com outro paciente e até com os que garantiam que éramos do circo. Rosinha e umas histórias de gatos, e um biscoito tostado pelo vapor do chá foram ideias surgidas ali.

Quando já estávamos indo embora, creio que o maior limão da noite. Uma mulher, no escuro, falando no celular e olhando para um vidro de uma das janelas que assumia a função de espelho, não conseguiu ver, quando passei por trás dela, o reflexo daquele olhar de criança do curso de formação. Ela só disse, com voz dura e pausada: “Saia-daqui-por-favor-que-tenho-medo-de-você”! Essas palavras chacoalharam dentro de mim, e ai o estado de clown caiu totalmente. Só queria descer a máscara e ir refletir.


No entanto, ainda tinha uma funcionária que achamos quando estávamos já chegando no quarto para descer a máscara que queria desabafar sobre a organização do HUT, e logo assumimos o papel do palhaço de protestar. Conversamos sobre os atrasos de salários e foi lindo ver o desabafo dela, e o alívio que ela sentiu depois. Ela realmente precisava dizer aquilo a alguém.

Atuação difícil, mas como devo transformar a queda num passo de dança, vou utilizar os limões para o meu aprendizado!

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