sábado, 26 de janeiro de 2013

Tunica Caqui, 22.01.2013

Um tempo bom já se passou desde a última vez que vesti essa roupa. Relembrei com esforço dos traços da maquiagem, não podia esquecer nada para que me sentisse  completinha pra atuar. A distância entre uma aparição e outra fez surgir um frio na barriga, um medo de não saber mais o que fazer, mas ainda bem que o ambiente lhe mostra o que quer de você. Como sempre, nenhum roteiro pré-definido, nenhuma ala específica, foi sair pro que der e vier. Deixei de lado minhas lembranças da última vez que ali estive, por que senão tudo poderia ter ido por água abaixo se saísse daquela porta pensando que a atuação poderia não ser das melhores, que parece que as crianças não vão com a minha cara... justo eu que todo mundo olha e diz que tenho jeito pra criança. Hoje não pude reclamar de nada. Amei cada momento compartilhado sejam os que nos receberam de cara, ou mesmo aqueles de cara fechada. Ainda bem que foram poucos que não quiseram interagir. Vi futuras mamães na sala “Cristal” quase prontas pra dar a luz a suas preciosidades como o próprio nome da sala sugere, mesmo com dor, interagir conosco. Vi também as mães das mamães preocupadas em fazermos ‘zuada’, mas como tudo é por amor, seguimos nossa rota em busca de novas jóias. Vi que chegar abalando nem sempre é a melhor entrada, chegar devagarinho, ganhando a confiança e atenção de uns pacotinhos de gente todos embrulhadinhos, os tornam verdadeiros presentes pra mim. Ver os olhinhos nos acompanhando, outros fechadinhos irem se abrindo, as mamães brincalhonas, as acompanhantes entrando nas jogadas foi o máximo e surpreendente pra quem está acostumada a ver uma superproteção cheia de ‘xiuuu... silêncio; não pode pegar... licença que o bebê vai mamar’. Todo lugar tinha um ar convidativo. Daí, nos falaram pra passarmos num lugar chamado “Pediatria”. Com esse nome, só podia ter um monte de pezão, mas tinham um monte de pezinhos fofos, uns que corriam no corredor, outros que balançavam na cama, na poltrona. Conhecemos uma menina linda super encantadora, um ano e falava mais com os olhos e gestos do que muita gente grande. Vimos um garoto que mais parecia um sábio com suas respostas às adivinhações e humildade ao dizer que não sabia. Tivemos duas chances de ajudar a nomear dois pimpolhos, porém nossas sugestões eram muito comuns, os nomes desejados eram outro nível além de nossa criatividade. Acho eu que como essas fofuras são únicas para essas mamães, elas queriam um nome exclusivo também. Aquele lugar é um mundo de grande e um universo de pessoas loucas pra regressarem a suas casas, mas sem fazer daquele ambiente um lugar triste. Uma das chefas de lá nos ensinou um novo cumprimento, denominado pela mesma de ‘colocar ovos’. Você pega suas mãos com a palma pra cima e as estende em direção ao outro que recobre as suas. Assim, aprendi a colocar ovos. Como essa terra chama Dom Malan é gigantesca, a nossa jornada por hoje estava se encerrando quando escutamos um chamado. Era Larissa, que como seu próprio nome diz, era a alegria em pessoa. Ela acabara de abandonar a brinquedoteca para nos dar o ar da sua graça e nos dar um dos abraços mais gentil e sincero que já recebi. A gente estava perto de uma placa em formato de uma lâmpada e falamos para junto conosco esfregar a lâmpada e fazer um pedido ao gênio, que tinha ido dar uma volta, por isso não apareceu, mas ele atende a todos os pedidos. Seu desejo foi que pudesse melhorar logo e voltar pra casa. E quando já estávamos nos despedindo, lá vem uma outra princesinha com a mãe pra nos dar um abraço e dizer que queria nos ver de novo, justo ela que nos olhava tão séria. A vida nos surpreende em pequenas coisas, gestos simples tomam outra dimensão e fazem o dia continuar melhor e sem a preguiça de quando acordei pra ir atuar. Essa atuação foi um presente para guardar em minha memória e lembrar com nota 10 de como foi participar da palhaçoterapia. Tunica se despede aqui com um aperto no coração e uma vontade de chorar que não tinha sentido antes ao tomar a decisão. Novos caminhos serão trilhados mas os diários de bordo estão aqui pra me recordar sempre que o jogo tem que ser verdadeiro e que, se não se enche um copo com uma jarra vazia, a minha encheu bastante com essa oportunidade que tive aqui.

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