“Cara, eu vejo você contando essas coisas e só consigo pensar uma coisa: que
vocês são tipo uns anjos, sei lá. Sei nem o que falar, na moral, eu não teria
as manhas de fazer isso nem f*dendo viu Ray. Eu acho
isso mágica, na moral mesmo...”.
Esse é um trecho de
uma conversa que tive com um amigo meu ontem. Contava a ele sobre a UPI e
nossas atuações.Mas, pera aí.
Manha? Que manha? Mal sabe ele que não temos manhas, não temos um molde, não tem nada pré-preparado, não há um roteiro a ser seguido. É preciso querer muito, estar em branco, não pensar e saltar no vazio. Porque é aí que a ‘mágica’ acontece.
Branco
Vazio
Sim, o branco – vazio me guiou nesse dia. Estava muito ansiosa e curiosa para saber como seria atuar depois de tanto tempo afastada. Enquanto a música tocava e nós nos concentrávamos para subir o nariz eu comecei a pensar na oficina e no picadeiro. Lembrei do branco – vazio, de que eu precisava não pensar em nada e me entregar.
Me entreguei, disse olá pra Teca e encontrei o olhar brilhante e disponível de Flavoca Paçoca.
Saímos seguindo nossas vontades e impulsos. Encontramos pessoas muito disponíveis, cujos olhares me alimentavam durante o trajeto. Preciso confessar que é muito difícil não poder entrar em outro setor que não seja a pediatria. Foi preciso conter alguns estímulos e deixar de acompanhar alguém que nos chamava porque nós não podíamos entrar lá.
Bom, chegando ao corredor com nomes de personagens em quadrinhos foi que a mágica realmente aconteceu. No segundo quarto em que entramos conhecemos a Francinete, que em pouco tempo virou Fran. Uma linda menina bochechudinha e muito fofa de apenas dois anos. Ela chegou ao quarto no colo da mãe com dois dedinhos na boca. Olhava-nos de um jeito tão especial que fez acelerar meu coração. Perguntamos a ela que gosto tinha o dedo dela e ela respondeu ser de café. Pois pronto! Aquela era Francinete cheirinho de café. Outra colega de quarto cheirou os dedinhos dela e disse que sim, ela realmente cheirava a café.
Nesse mesmo quarto encontramos o Wesley, um rapazinho de 11 anos que estava sentado em uma cadeira de rodas. Essa cadeira logo virou um carrão potente e saímos pelo corredor passeando com ele, que guiava nosso trajeto: direita, esquerda, sinal vermelho, entra nesse quarto. E nós seguimos a risca todas as orientações. Coisa mais linda ainda era ver que Fran e Gabi – outra coleguinha de quarto dos meninos - nos seguiam pelo corredor e nos ajudavam a empurrar o carro do Wesley.
Quando levamos o Wesley de volta aos aposentos dele nós pegamos seu carro emprestado e saímos passeando pelo corredor novamente. Flavoca empurrava Teca com a ajuda das meninas e depois Teca empurrou Flavoca e Fran, que ia no colo dela. Abastecemos o carro e o devolvemos ao dono, porque não íamos entregá-lo com o tanque vazio, né?
Fran apareceu com uma pulseira de sapo no pulso que fazia barulhinho quando ela mexia o braço. Em pouco tempo aquele barulhinho virou o som que guiava a nossa dança e depois a melodia da nossa música. A música era assim: ‘Em cima! Embaixo! Pra frente! Pra trás! Sobe tudo! Yes yes yes!’ Como vcs podem imaginar, os movimentos da dança seguiam as recomendações da música. Fran nos acompanhava animadíssima e a cada vez que terminávamos uma coreografia ela falava: ‘De novo’ e começava a cantar: embaixooo e levantava os bracinhos! Hahahaha, coisa mais linda de se ver!
Perdi as contas de quantas vezes dançamos essa música. Fran não se cansava.
Foi difícil sair dali. Fran queria nos acompanhar a todo custo.
No trajeto de volta ao quartinho uma ‘merda’ aconteceu. Estávamos eu e Flavoca super animadas andando e eis que surge uma moça bem peculiar no início do corredor com a cara fechada, óculos escuros e andando como se fosse Gisele Bündchen. Ainda naquela de branco vazio eu soltei um: e lá vem ela, a modelo super famosa na passarela e coisas desse tipo. Eu e Flavoca começamos a desfilar ao lado dela, que não estava nem aí pra gente. Do nada essa mulher parou e soltou um grito: Saaaaai de perto de mim, besta fera!
Tomamos um susto gigante, mas logo em seguida as risadas rolaram soltas.
Depois desse episódio ainda deu tempo de conhecer um funcionário do hospital que ficou dançando a música da Fran conosco.
Pessoal, quase me esqueço de compartilhar uma coisa com vocês. Houve outro episódio que me encantou no dia de hoje. Estou num momento de tentar desenvolver as habilidades corporais da Teca e seguir o que Gentileza disse: explore todas as possibilidades que esse corpo oferece, fale menos. Pois bem, entramos num quarto e uma menininha estava sentada em sua cama e nos acompanhava com os olhinhos atentos enquanto chupava sua chupeta. Começamos um jogo com o olhar. Ela olhava, eu me escondia embaixo de sua cama. Ela me procurava e me achava. Depois ela me procurava e não me achava mais, porque eu me escondia agora do lado de fora do quarto e aparecia pela janela. Ficamos nessa de esconder e achar por um tempo, enquanto ela soltava umas risadinhas gostosas. Quando resolvi ficar quietinha escondida eu encontro com ela descendo da cama e andando me procurando! Coisa mais linda! Melhor ainda foi perceber que a Teca consegue sim ficar calada! Hahaha.
Bom, foi isso que aconteceu! Estava com uma saudade enorme de tudo isso!
Um forte abraço,
Teca Lua Cheia.
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