segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Tina Gatínea, HUT, 12/12/17

Desculpa minhas ausências. Você pensou em mim? Você esperou por mim? - ecos de um canto a outro do estado ou na minha mente?-  A você que não me conheceu. A você que não teve com quem desabafar, falar, ouvir. A você que não soltou um sorriso espontâneo ao me ver. A você que me queria por perto por algum momento. A você que sentiu minha falta, aonde estiver, me perdoa! Também perdi muitos momentos com você! Longe e do outro lado, senti o que Tina, Gigi, e todos  os que se propõem a por muito mais do que um nariz no rosto, provocam nas pessoas. Nos tornamos a novidade do dia, da ligação aos familiares. Nos tornamos a melhor coisa daquele dia, daquela situação, dos últimos dias. "Quero poder ser motivo de gratidão no olhar do acompanhante que encontrou alguém que ao seu ver parece lidar melhor com aquela situação mas que na verdade, ao sair de lá deixando um clima mais leve ou até mesmo um sorriso no rosto do paciente, vai ter renovado suas forças e sua esperança". Foi o que escrevi naquela carta de intenção, quando falaram sobre escrever o que você tinha no coração. Escrevi antes de me tornar Tina. Se escrevesse hoje, acrescentaria que mesmo que as forças e a  esperança não consigam ser mais renovadas, a lembrança de um sorriso diminui o abismo no qual as más memórias e a dor te jogam. Nos tornaremos lembrança! Voltei. Volto aos poucos, tentando estar mais disponível do que meramente engraçada. Sem muitos segredos, enferrujada - a ponto de esquecer meu batom - e com poucos jogos, mesclei Laís e Tina. Ouvi, falei, brinquei, me perdi nos meus pensamentos, nas minhas lembranças, culpas, dores. Recuei, evitei, senti. Aliás, sentir é algo inevitável. Senti extremos. Fiquei feliz em dar ouvidos a Seu Ulisses.  Senti que ele ao falar do herói da Odisseia que também carrega seu nome ou ao se exibir com seu inglês, ainda se sentia autônomo, orgulhoso, útil. Naquele momento ele era tudo e o hospital não podia tirá-lo dele. Senti a esperança e a fé que a fala mansa e o sorriso tímido de Cléber traziam nos surpreendendo. Senti a coragem de Nayara que enfrenta com coragem a esclerose múltipla, a diabetes, tumor no pulmão  e que já não tem mais forças nas pernas... Se isso fosse um filme, ansiaria que o final fosse diferente do que vi e que, ao querer ver o sol, ela consiga ir até a janela no final do corredor e consiga sentir o novo e real significado por trás das pequenas coisas. A minha impotência mais uma vez se fez presente. Senti esses extremos que me fazem me perder nos meus pensamentos e mergulhar na minha bagunça. Sinto minha dualidade pungente, mesmo sem compreender como caminho de um dia convivendo, lidando e sorrindo com meus fantasmas ao aqui e agora, na necessidade de dar significado e "desafrouxar" os nós através desse diário. Voltei e como bagagem tento me confortar e seguir com as memórias que me deixaram. 



                                                      " Tina e Gigi Abacaxiii "

                            "E é devagar que se desfaz
                             Todo medo que insiste em apertar os nós
                             Mas, meu amigo, reconhece-te a ti mesmo,
                             Dê valor ao caminho que te escolhe
                             Palavras têm poder e os rastros que deixamos por aí
                             Depressa vão chegar no infinito..."


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