domingo, 11 de janeiro de 2015

Bartolomeu Barbudo - Dom Malan - 08/01/2015



Uma coisa que gosto em ser clown é sair de mim mesmo, tirar o foco das minhas necessidades e problemas e perceber que além delas, existem muitas outras necessidades e problemas também. É bom este exercício de alteridade, que somente é possível com a companhia das pessoas que me fazem tão bem, que me instigam ainda mais a fazer parte da UPI. Nesta atuação, fora da rotina das aulas, fora de escalas, tive o grande prazer de estar junto de Inês Tamborete e Hércules do Encanto, essa palhaça e esse palhaço que eu adoro tanto.
Pra quem atua sempre no HUT, o Dom Malan é um local beeeem diferente. Pra mim, em certos aspectos, até intimida um pouco. O HUT é bom porque lá a gente tem – o andar –, com seus quartos e enfermarias, um roteiro de visita certinho, vai num quarto, vai noutro, até acabar. O Dom Malan é imenso, é muita terra, muito quarto e muita gente pra um clown visitar. Isso traz uma sensaçãozinha boa de liberdade, de querer explorar cada canto… e junto com Inês e Hércules, pela primeira vez como clown, eu me senti parte. Senti que pertencia a algo maior. No HUT, sempre tive a impressão que a UPI era algo bem separado, a gente chegava, se preparava, fazia nossa atuação e ia embora. Por mais que fôssemos bem recebidos e atuação rolasse sem nenhuma rejeição, essa sensação inconsciente ficava. Neste dia, no Dom Malan, foi diferente. Eu me senti integrado no hospital, e ao lado de Inês e Hércules, Eu-Bartolomeu teve muita mais disposição para o jogo, para encontrar cada pessoa.
E os encontros foram tão bons, tão gratificantes… atuar com crianças é muito mais difícil, elas exigem muito mais da gente e se a gente não tiver 100% presente, de corpo alerta, com a mente afiada, o jogo não funciona, o palhaço perde a conexão e só resta a porta de saída. Esse desafio tá sempre presente, é o jogo que as crianças colocam pra gente. E isso é bom.
O bom do palhaço é isso: se desligar das minhas vaidades, dos meus problemas e olhar em volta. Estar presente para outras pessoas. Independente do tamanho dos nossos problemas, de como eles nos afetam, várias outras pessoas têm vários outros problemas que as afetam de várias maneiras diferentes. É um exercício de humildade também: por melhor que seja o nosso trabalho, o palhaço não resolve nada. O palhaço não cura uma doença, não resolve problemas, não tem uma solução. O palhaço procura cuidar, procura encontrar, procura brincar. O palhaço está sempre atrás, sempre em busca. O palhaço é um caminho. É um tempinho que os pacientes passam enquanto aguardam sua recuperação, é um caminho no meu treinamento para ser médico. Me faz ver que cada profissional de saúde tem a sua importância e a sua área de atuação, que o mais importante em todo este processo é o bem-estar dos pacientes, é o bem-estar de cada ser humano. Ser clown é meu caminho.

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