sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Esperança Sambacanção - HUT - 24/10/14

Que pena que foi bom

Que pena que às vezes ser o que a gente é, não é o bastante. Sim, eu sei que eu já sabia disso, mas preciso ser sincero, tinha esquecido.

Que pena que às vezes querer ajudar não ajuda.

 Que pena que nem sempre um olhar encontra o outro. Porque eu olhei pra o olho e ela olhou pro pé, não era de olho que ela queria falar, era de pé, de pé no chão, realidade. A seta indicando o caminho passou despercebida, e sinto que mesmo tendo visto, escolheria outra estrada, não estaria pronto...

Que pena que até no hospital tenha gente passando frio, sem lençol, sem atenção e sem cuidado, e o mais penoso é que às vezes só o tentar não aquece, que pena precisar conseguir, e não bastar a intenção, a tentativa...

Uma pena também ver alguém não poder sentir sua dor, não poder sofrer o sofrimento, porque tem gente pequena que precisa dela, porque tem filho pra criar, porque tem filho pra buscar na creche. Eu não sei se é triste ou se é feliz, se é feio ou se é bunito, ver alguém que no meio de uma dor forte, encontra forças pra pedir ajuda, não pra si, mas pro outro, pro filho que tá longe e precisa que alguém busque.

Confuso... A vida é assim meio bagunçada as vezes. Que pena que ficou por nossa conta arrumar a bagunça que sabe Deus quem criou.

Mas que bom, que bom que eu posso ter a oportunidade de viver isso, que bom encontrar com tanta dor, e com tanta tristeza, acho que ajuda a perceber que a vida é maior que meu sorriso, que a minha alegria, e maior do que eu, que tem gente que sofre, e sofre sozinho, porque quem ta do lado não sabe sentir...

 Que bom que eu tentei; conseguindo ou não, eu tentei, que bom que eu me arrisquei mais uma vez a errar, e errei, numa certa medida errei, mas continuo com a sensação de coragem, coragem de subir meu nariz pra tentar o fazer o bem, mesmo, vez ou outra, fazendo o “mal”.

 Que bom que eu tentei emprestar meus dois dedinhos pra Dona Francisca, mesmo sabendo que ela queria era os dela. Que bom que por alguns segundos aquela mãe preocupada com os filhos, - nem que fosse por alguns segundos - ficou tranquila, quando a gente prometeu que ia pegá-los na creche. E que bom, que mesmo não indo até a lavanderia lavar com minhas próprias mãos o lençol de Sr. Bartô, eu não esqueci de perguntar a todos os que encontrei pelo caminho, o que é que eu fazia pra achar um lençol limpo naquele hospital.

Que bom mas que pena, que pena mas que bom também, que pena, que pena, que bom e que bom sabe, que bom que foi uma pena, que pena ter sido bom...  que tal!

E que tal a gente não parar? Porque hoje eu aprendi que não estou pronto, e consequentemente, não estou morto.


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