Que pena
que foi bom
Que
pena que às vezes ser o que a gente é, não é o bastante. Sim, eu sei que eu já
sabia disso, mas preciso ser sincero, tinha esquecido.
Que pena
que às vezes querer ajudar não ajuda.
Que pena que nem sempre um olhar encontra o
outro. Porque eu olhei pra o olho e ela olhou pro pé, não era de olho que ela
queria falar, era de pé, de pé no chão, realidade. A seta indicando o caminho
passou despercebida, e sinto que mesmo tendo visto, escolheria outra estrada,
não estaria pronto...
Que pena
que até no hospital tenha gente passando frio, sem lençol, sem atenção e sem
cuidado, e o mais penoso é que às vezes só o tentar não aquece, que pena
precisar conseguir, e não bastar a intenção, a tentativa...
Uma pena
também ver alguém não poder sentir sua dor, não poder sofrer o sofrimento,
porque tem gente pequena que precisa dela, porque tem filho pra criar, porque
tem filho pra buscar na creche. Eu não sei se é triste ou se é feliz, se é feio
ou se é bunito, ver alguém que no meio de uma dor forte, encontra forças pra
pedir ajuda, não pra si, mas pro outro, pro filho que tá longe e precisa que
alguém busque.
Confuso...
A vida é assim meio bagunçada as vezes. Que pena que ficou por nossa conta
arrumar a bagunça que sabe Deus quem criou.
Mas que
bom, que bom que eu posso ter a oportunidade de viver isso, que bom encontrar
com tanta dor, e com tanta tristeza, acho que ajuda a perceber que a vida é
maior que meu sorriso, que a minha alegria, e maior do que eu, que tem gente
que sofre, e sofre sozinho, porque quem ta do lado não sabe sentir...
Que bom que eu tentei; conseguindo ou não, eu
tentei, que bom que eu me arrisquei mais uma vez a errar, e errei, numa certa
medida errei, mas continuo com a sensação de coragem, coragem de subir meu
nariz pra tentar o fazer o bem, mesmo, vez ou outra, fazendo o “mal”.
Que bom que eu tentei emprestar meus dois
dedinhos pra Dona Francisca, mesmo sabendo que ela queria era os dela. Que bom
que por alguns segundos aquela mãe preocupada com os filhos, - nem que fosse
por alguns segundos - ficou tranquila, quando a gente prometeu que ia pegá-los
na creche. E que bom, que mesmo não indo até a lavanderia lavar com minhas
próprias mãos o lençol de Sr. Bartô, eu não esqueci de perguntar a todos os que
encontrei pelo caminho, o que é que eu fazia pra achar um lençol limpo naquele
hospital.
Que bom
mas que pena, que pena mas que bom também, que pena, que pena, que bom e que
bom sabe, que bom que foi uma pena, que pena ter sido bom... que tal!
E que tal a gente não parar? Porque hoje eu aprendi que não estou pronto, e consequentemente, não estou morto.
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