domingo, 26 de outubro de 2014

Diário de Bordo - 24/10 - Jamaisvista de Listras

É tão difícil compreender como todas as coisas do mundo tem visões diferentes. Acho que não existe visão distorcida, é apenas visão.
Depois de um funk dos bons, subo o nariz e me vejo conhecendo novos rostos, como o de Esperança, e reencontrando outros, como o de Rosinha; tudo que eu queria era me libertar e aproveitar o momento porque Jamaisvista provoca libertação da minha alma.
Não sei falar bonito nem usar construções frasais perfeitas, mais sei que apesar de todos os pesares da atuação; foi bom!
Foi bom conhecer Inca Carranca e toda sua anca à mostra na maior das alegrias, mesmo que tinha uma pontinha de humor negro quando virou pro Esperança e perguntou: Porque você não se joga da janela? Pensei, porque ela pensou isso?, foi só pra provocar?, ela não estava gostando? . Ela brilhava tanto com o nosso cuidado que não consigo compreender o porquê da janela, acho que foi apenas uma forma de tentar interagir com o imperativo; acho que pra ela somos bobos da corte que segue ordens. E ela prosseguiu: Dança pra eu ver! Vem cá agora! Mais eu gostei dela, gostei muito.
E Lara, com sua boina cor de rosa e sua língua afiada que não respondia o que perguntávamos, mas adorava fazer pergunta. Senti algo estranho diante de uma criança tão ríspida, fiquei pensando em como teria me saído se tivesse entrado no seu quarto, e não conhece-la apenas no corredor; será que ela se sentiu ofendida por não termos dado tanta ligança à ela?!
Durante o nosso percurso conhecemos dona Chiquinha (Francisca), uma senhorinha fofinha, toda bonitinha e que sabe lavar uma roupa como ninguém. Queria ter dado meus dedinhos pra ela, acho que só dois não iam fazer muita falta pra mim como faz pra ela; ela estava triste e eu não consegui me envolver. No mesmo quarto de dona Chiquinha, encontrei uma mãe desesperada de dor que se contorcia na cama e a única coisa que conseguia pensar era o horário de buscar as crianças na creche, ela estava atrasava e precisava que alguém fosse no seu lugar, prontamente nos disponibilizamos a ir no seu lugar pegar os meninos, provocamos um conforto momentâneo enquanto a dor a corroía por dentro.
Um dos melhores momentos da atuação foi conhecer seu Bartô, um ilustre sobrevivente do descaso que é o hospital público. Com as duas pernas amputadas, seu Bartô pedia por um lençol para cobrir suas partes intimas, mas a máquina da lavanderia estava quebrada e não existia lençol pro seu Bartô. A nossa maior missão do dia foi tentar achar esse lençol e fizemos tudo que podíamos mas a nossa missão foi fracassada, não se leva mais à sério os palhaços como antigamente, ninguém nos escuta quando é algo sério. Nós tentamos a cada lugar que passávamos, tudo em vão; mas não me arrependo, fizemos o que estava ao nosso alcance.

É difícil lidar com as impotências! Que bom, que pena, que tal... que podemos usar o erro ao nosso favor.

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