É tão difícil compreender como todas as coisas do mundo tem
visões diferentes. Acho que não existe visão distorcida, é apenas visão.
Depois de um funk dos bons, subo o nariz e me vejo
conhecendo novos rostos, como o de Esperança, e reencontrando outros, como o de
Rosinha; tudo que eu queria era me libertar e aproveitar o momento porque
Jamaisvista provoca libertação da minha alma.
Não sei falar bonito nem usar construções frasais perfeitas,
mais sei que apesar de todos os pesares da atuação; foi bom!
Foi bom conhecer Inca Carranca e toda sua anca à mostra na
maior das alegrias, mesmo que tinha uma pontinha de humor negro quando virou
pro Esperança e perguntou: Porque você não se joga da janela? Pensei, porque
ela pensou isso?, foi só pra provocar?, ela não estava gostando? . Ela brilhava
tanto com o nosso cuidado que não consigo compreender o porquê da janela, acho
que foi apenas uma forma de tentar interagir com o imperativo; acho que pra ela
somos bobos da corte que segue ordens. E ela prosseguiu: Dança pra eu ver! Vem
cá agora! Mais eu gostei dela, gostei muito.
E Lara, com sua boina cor de rosa e sua língua afiada que
não respondia o que perguntávamos, mas adorava fazer pergunta. Senti algo
estranho diante de uma criança tão ríspida, fiquei pensando em como teria me saído
se tivesse entrado no seu quarto, e não conhece-la apenas no corredor; será que
ela se sentiu ofendida por não termos dado tanta ligança à ela?!
Durante o nosso percurso conhecemos dona Chiquinha
(Francisca), uma senhorinha fofinha, toda bonitinha e que sabe lavar uma roupa
como ninguém. Queria ter dado meus dedinhos pra ela, acho que só dois não iam
fazer muita falta pra mim como faz pra ela; ela estava triste e eu não consegui
me envolver. No mesmo quarto de dona Chiquinha, encontrei uma mãe desesperada
de dor que se contorcia na cama e a única coisa que conseguia pensar era o
horário de buscar as crianças na creche, ela estava atrasava e precisava que
alguém fosse no seu lugar, prontamente nos disponibilizamos a ir no seu lugar
pegar os meninos, provocamos um conforto momentâneo enquanto a dor a corroía por
dentro.
Um dos melhores momentos da atuação foi conhecer seu Bartô,
um ilustre sobrevivente do descaso que é o hospital público. Com as duas pernas
amputadas, seu Bartô pedia por um lençol para cobrir suas partes intimas, mas a
máquina da lavanderia estava quebrada e não existia lençol pro seu Bartô. A
nossa maior missão do dia foi tentar achar esse lençol e fizemos tudo que
podíamos mas a nossa missão foi fracassada, não se leva mais à sério os
palhaços como antigamente, ninguém nos escuta quando é algo sério. Nós tentamos
a cada lugar que passávamos, tudo em vão; mas não me arrependo, fizemos o que
estava ao nosso alcance.
É difícil lidar com as impotências! Que bom, que pena, que
tal... que podemos usar o erro ao nosso favor.
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