quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Diário de bordo- HU, 15.10.14- Ines Tamborete


De volta! /o/

Escrita, escrita, escrita. E logo depois de atuar, pra não esquecer detalhes (as experiencias do semestre passado ensinaram-me isso). Hoje foi a primeira ida ao HU depois das férias e do remanejamento de clowns para atuaçoes e, levando em conta previsoes catastroficas minhas, deu até muito certo. Explico: estar no setor sem monitor@s e depois de tanto tempo parada e meio perdida em minhas reflexoes sobre o ‘ser clown’ parecia assustador. Principalmente porque faltei muuuito ao aprofundamento. Mas as coisas correram mais leves do que eu imaginava.

A melhor dupla, desta vez, seria só e apenasmente Dalila. E fomos ao HU, na nossa primeira vez juntas. Roupa, gente no quarto, maquiagem, calor, mais gente no quarto e... subir o nariz no banheiro, rs.

Nao imaginava que o jogo da minha companheira fosse tao espoleta. Fiquei com uma vontade enorme de: “ei, coisinha, vai devagar, viu? Devagaaar” no meio dos jogos. Mas era o jeito dela e, apesar do início ter sido uma etapa de “pegar costume”, fluímos. Nós nos demos bem com o moço que se comunicava somente piscando os olhos (“mas como ele diz que quer ir ao banheiro??”) e sua acompanhante; mais ainda com a menina brava que queria arrancar nosso nariz (gostei demais dela! Bicha retada, uma cirurgia da complexidade que a que ela fez e a criaturinha continuava lá, firme e tirando várias com nossa cara, de personalidade forte); além da criança crescidona (“trinta anos??”) do outro leito. A senhorinha que estava quase sozinha em um dos quartos foi a nossa deixa para sairmos e nos escondermos de uma moça malvada que chegou para examiná-la e queria nos furar, veja só! :@

O quarto-desafio da noite- porque quase sempre tem um. Chegamos em duas senhoras, uma delas bem simpática e tranquila, elogiou nossas roupas e ficamos “nos achando”; ela queria até um short que nem o da Magali! A outra, um tanto agressiva e baixa-jogo, rs. Mas ela não iria cortar meu jogo, de jeito nenhum. Primeiro, porque pessoas grossas tem por todos os lugares; segundo, porque ela tinha uma linha de pensamento sisuda, engessada e intransigente, queria nos forçar a engolir a crença dela e a acreditar naquilo que ela estava dizendo... e isso entra pelo meu ouvido e sai pelo outro; terceiro, porque ela, infelizmente, não entende de brincadeiras. Tive muita vontade de contestá-la e fiz uma tentativa branda: “entao, Jesus não gosta de pessoas que brincam?” e minha companheira também, porém daquele mato não sairia coelho... e tive ímpeto também de ficar sinalizando sim a tudo que ela dizia, mas, daí, não seria eu, então, simplesmente levantei, nao quis insistir e deixei-a lá, inclusive chamando a Dalila de mentirosa. Aquele momento em que tem é preciso se segurar para nao quebrar a clavícula reagir do mesmo jeito. Fiquei receosa por Malagueta. Foi triste ver esta postura ofensiva e intolerante, que sei que não representa tod@s de sua religiao, mas ainda é um grande exemplo de como as pessoas deturpam e cospem a sua “verdade”, sem o mínimo de respeito.

Entao, saindo deste quarto, dialogamos com uma jovem bonita, que estava vendo o tempo passar através da janela de vidro; um doce! E que soube jogar muito bem conosco, com a menina brava e as técnicas de Enfermagem (que estavam doidas pra nos agulhar), todo mundo se encontrando no fim do corredor! *Pausa para fotos, haha*. Foto, foto, foto e o carinho daquela guria que só queria era aprontar com a gente, mesmo. Uma linda. Crianças, no fundo, são adoráveis.

A esta altura, minha coluna já doía e o estomago vazio reclamava. Mas ainda teríamos mais! O último quarto era o mais cheio até então- situaçao que me desconforta no setor hospitalar. Várias pessoas acamadas, frágeis, esperando atençao me angustiam e estabelecer diálogos entre elas é algo que ainda tenho que aprender, parece uma boa maneira de interagir. Mas, neste quarto, encontrei o moço mais incrível da noite, o S. Foi uma troca muito mais rica pra mim e arrependi-me de não te-lo agradecido por isso. Solto, educado, sincero, zoeiro... finalmente encontrei alguém que batia completamnte comigo, com meu jogo. Apesar de que falei algo que não impactou bem nele, devido ao seu estado de saúde (“eu errei, viu?”); mas o cara levou na boa, felizmente. Ele me entendeu. Nao cobrou nada de mim (exceto meu nome “verdadeiro”... oxe), não quis que eu “me soltasse”, que eu o fizesse sorrir por sorrir e tinha olhos bem sinceros. Minha jarra já estava cheia.

… e era hora de ir! Nao foi fácil me despedir desta noite super grata e viva. Os sorrisos das maes acompanhantes só de nos ver e d@s pacientes, as encaradas com a minha companheira de atuaçao não tem preço. Começo a me achar muito mais nisso que faço. A aproveitar cada pedaço que acontece para melhorar a mim. A saber que não preciso ser aquilo que não sou, mas otimizar capacidades. Nada difícil saber porque a UPI me faz tao bem.
Despeço-me com bastante sono.
Ah! Saudadinha de meu velho trio, Sancho pança-fofa e Marieta Nariguda.

Até! :)







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