domingo, 25 de dezembro de 2022

Tati Abacate, 24/12/2022, HU - 1° Andar

 



Querido diário, 


Hoje no trem, eu e meus companheiros Virgulino Felino e Cindy Land achamos um presente e deduzimos que o Papai Noel tinha o deixado ali, então saímos atrás dele, pois também queríamos nossos presentes de natal.


No primeiro quarto em que entramos conhecemos uma mulher que era de Juazeiro, ela estava acompanhando o seu irmão, que por sua vez morava numa cidade chamada Casa Nova. Com essa informação, Virgulino perguntou se o nome da cidade se dava pelo fato de todos ali morarem em casas novas, o que a moça confirmou, então perguntamos se ela não queria morar numa casa nova também, mas ela disse que preferia uma casa velhinha mesmo. Durante essa conversa, percebemos que ela estava dando achocolatado para seu irmão e perguntamos se foi o Papai Noel que tinha fornecido aquela bebida. Ela confirmou e decidimos que também queríamos achocolatado, então saímos atrás do Papai Noel.


Após isso entramos no quarto de um senhor que parecia não ouvir muito bem, e como ele tinha o cabelo e a barba branca achamos que ele devia ser o Papai Noel, mas descobrimos que o nome dele era Francisco. No entanto a acompanhante dele estava com uma roupa vermelha então pensamos que ela podia ser a Mamãe Noel, o que ela tentou negar, mas ficamos com uma pulga atrás da orelha (ainda achamos que ela era a Mamãe Noel disfarçada). Ainda naquele quarto encontramos um casal que se chamava José e Maria que moravam num bairro que também se chamava José e Maria, perguntamos se eles eram os donos do bairro, já que tinham o mesmo nome, eles confirmaram e nos garantiram que haveria um lugar para nós lá.


Depois disso, descobrimos que tinha um quarto cheio de donos de roças (que nem eu!) ,tinha plantador de manga, banana, goiaba e até dono de rancho. Falamos também com uma senhora que veio do Salitre e que disse que estava com um vestido vermelho rendado guardado para usar no natal, ela só aparentava querer que alguém a ouvisse, e ao meu ver parecia estar sozinha…


E então veio o que foi para mim o primeiro choque. Ao chegarmos na porta de um quarto, vimos uma mulher se escondendo e logo ouvimos a sua tia (que estava acamada) soltar um “se vocês pegarem ela vou bater em vocês”. De início achei que ela só estava brincando, até que fui falar mais com ela e ela ainda continuou irritadiça.


Na plaquinha que estava grudada em sua cama vi que o seu nome tinha o sobrenome “Franca”, e então perguntei:


- A senhora tem Franca no nome, a senhora é da família dos Francos?

- Você é muito é curiosa viu! Você acha que eu não sei que você tá lendo isso na placa? - ela respondeu, raivosa


Nesse momento acho que eu podia muito bem ter saído de perto daquela senhora, mas algo me instigou a continuar falando com ela e, honestamente, eu estava começando a achar graça naquela situação.


- Sim, mais eu tô falando porque li na placa mesmo - respondi

- Não é Franca, é França, porque somos descendentes de franceses 


E então a partir daí ela começou a nos contar a história de sua família. Especialmente de seu avô, que era um homem branco loiro, muito bonito e que durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhava como correio num burro e levava noticias de Recife para Triunfo, com as balas passando pela cabeça (palavras dela). Ela disse ainda que as notícias demoravam cerca de 40 dias para chegar de uma cidade a outra, perguntamos então se naquela época não existiam trens, como os que a gente usa pra chegar lá, ela confirmou que sim, existiam, e que ela pegava trens quando mais nova para ir ao internato em que estudava. 


Ao sairmos dali, ouvimos o apito do nosso trem, avisando que já estava chegando e que era hora de partir. Nos despedimos de nossa busca por Papai Noel e fiquei com algumas reflexões em mente. Fiquei pensando se não coloquei meus companheiros numa situação chata, por termos parado numa estação a qual não estavam acostumados a passear, ou por ter interagido com pessoas que não pareciam estar muito interessadas na gente (e que traziam falas um tanto suspeitas em alguns aspectos) e até mesmo pelo fato de que senti minha energia se esvaindo muito rápido. Passadas as reflexões, creio que esse ano foi de muitas descobertas e crescimento para mim e espero que todos os companheiros que tive nessa estrada compartilhem desse sentimento e, por último (mas não menos importante):


Feliz Natal e um Próspero ano novo!


Com carinho, Tati Abacate









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