Eu estava achando que tinha sido só um sonho. A emoção e euforia de algumas semanas atrás, na formação, seguidas por uma pausa, como a que houve, no início foi angustiante. Nos colocaram no meio de um turbilhão e depois nos tiraram, que injustiça! Depois, aos poucos, parei muitas vezes para pensar se tinha sido tudo coisa da minha cabeça. Não foi! Comecei a lembrar de tudo já na reunião dois dias antes do Abraço. Tantas instruções, dicas, histórias... Meu Deus, cadê meu caderninho? Precisava anotar todas aquelas dicas! Precisava de uma cola de estratégias!
Na noite que precedeu o Abraço fiquei até tarde trabalhando no meu cartaz. Acabei tendo ajuda de uma pessoa muito especial para fazê-lo, tornando-o o 1º presente que eu ganharia com essa experiência. Fui dormir às 03h da manhã e acordei às 05h, separei tudo, arrumei numa bolsa e rumei para a Orla.
Estava com sono, mal-humorada, resmungona, mas ver aquele dia lindo nascendo e todo mundo ansioso, caminhando junto, fez as coisas (e o humor) melhorarem bastante! Chegamos ao ponto de encontro e preparação (todo carinhosamente decorado) e eu estava tranquila, a ficha ainda não tinha caído! Vesti minhas roupas, me maquiei (bem mequetrefemente) e fiquei por ali,conversando, parecia que não tinha noção do que aconteceria. Tudo pronto. Todo mundo se junta e, sem que eu pudesse me preparar, a contagem começa! AAAAHHH!
1, 2, 3... Meu Deus não estou pronta!
4,5... O que era pra fazer mesmo?
6,7... Esqueci das dicas, tô ferrada!
8,9... Energia! É isso! Eu já fiz isso antes!
Não sei se minha imaginação é muito fértil ou se realmente aconteceu, mas parecia um desenho animado! Finalmente senti a energia de quase 40(?) pessoas (num "apertamento") girando como num grande caldeirão, colorida, tão física que era quase visível para mim!
E foi essa que no 10 (DEEEZ!) me contagiou. Tirei minha primeira lição, precisamos mesmo do nosso companheiro, pro que quer que seja! Se não gerei energia suficiente eu roubei um pouquinho deles! E ali estávamos nós! O produto dessa complexa equação!
Descemos todos para a rua e posso garantir que nunca me senti tão destemida, corajosa. Eu sabia de tudo no mundo! O trajeto foi ótimo! Até que chegamos ao Camelódromo (lugar onde se cria camelos, segundo Frida Seriguela) e aí aconteceu!
Senti e ouvi um chamado. Tinha um companheiro me convidando para entrar naquele mundo! Olhei e vi: era Pinika Dôrada! CARA CARAMBA CARA CARAÔ! Era isso mesmo? Eu não a conhecia "diretamente", mas já tinha ouvido maravilhas sobre ela. Olhei para os lados e Inês Tamburete veio também, ainda bem! Precisava de alguém para dividir essa responsabilidade! Dei meu 1º grande SIM para Pinika, e que coisa abençoada foi isso! Peço licença nesse momento a todos para agradecer e falar um pouco de o quão grandioso foi tê-la conosco nesse 1º dia. O jeito que seu jogo fluía me encantava de uma forma que por vezes me percebi embasbacada! A sua experiência não a tornava egoísta ou melhor do que nós, pelo contrário! Ela nos envolvia de uma forma que quando vi já estávamos no embalo há muito tempo! Pinika entendeu que meu jogo (muito falante) e o de Inês (com olhares bem mais fortes!) eram diferentes e nos harmonizou de uma forma que rapidamente nós 3 estávamos, cada uma a seu modo, fazendo de um tudo naqueles corredores! Achamos o Mister Camelódromo, conversamos com moças tão sérias que até pareciam manequins de loja, clamamos por chuva, e tantas outras coisas que me emociono só de lembrar.
Fiapinho estava ali, sem dicas, sem estratégias, sem jogos prontos. Nasceu e ali, em meio a tanta gente, tivemos nosso 1º encontro de verdade. Todos os encontros foram importantes, os receptivos, os nem tanto, os que terminaram em abraços, os que fugiram e até os mal-educados! Mas garanto que o mais importante de todos foi o meu comigo mesma! Vi que Fiapinho era Ana Lu e que Ana Lu era Fiapinho, e que podíamos nos encontrar sempre que quiséssemos! Dois jeitos de ver o mundo e encarar as coisas, ao mesmo tempo tão diferentes e tão iguais! Mas Fiapinho tinha uma vantagem: acabara de nascer. Estava novinha em folha, sem cicatrizes, com uma página em branco pela frente, e o melhor: livre de medos!
Fiapinho escreveu lindamente essa primeira página. Riu, dançou, pulou, se emocionou e aprendeu muito! E principalmente teve a certeza de que era ali que queria e devia estar.
Termino com uma frase que Lisbela Duracel usou em seu último diário: "A vida é tão curta e a gente fica se dando em pedaços. Eu só consigo estar inteiro, o tempo todo, com quem estiver comigo, estar inteiro é se dar inteiro."
Garanto que pela 1ª vez em muito tempo eu estava ali, inteira. Na verdade, duplamente inteira, pois contrariando as leis da física, 2 corpos e 2 almas ocuparam o mesmo espaço, Lulu Fiapinho e Ana Lu. E isso foi maravilhoso! Obrigada!
Ps: Mesmo escrevendo primeiro à mão ficou enormemente longo, tenham paciência de ler!
Ps2: Quando cheguei em casa, após o Abraço, minha mãe havia colocado um novo tapete no meu quarto, em forma de palhaço, o qual ela mesma batizou de Gentilezinha, como não amar?
Ps3: Frida Seriguela, não esqueci de te agradecer, até porque se não fosse por você, nada disso seria possível, obrigada!