Hoje esta bem difícil de escrever. Nem sei como falar de
Lisbela sem passar por Ana. E essa é a parte difícil, falar da Ana. Não é
nenhuma bactéria ou vírus inconveniente. Ela sabe que tem uma galerinha preocupada,
mas infelizmente a menina não sabe esconder muito.
Talvez por isso meu dia hoje começou com uma vontade enorme
de desistir, de não ir, como vem acontecendo nos últimos dias/semanas.
Levantei cedo e enrolei organizando o meu quarto até o
horário limite para sair. Tive que pegar uma moto. As maquiagens ainda não
estavam com o grupo. Cheguei com uns 15 minutos de atraso, mas minhas
companheiras ainda não tinham chegado. Entrei para a cantina. Não dei bom dia e
nem sorri para ninguém. Não estava com vontade de fazê-lo. Simplesmente sentei
e esperei o tempo passar num jogo do celular. Talita chegou. E não a via a muito
tempo. Dei um abraço. Não meu melhor abraço. Logo depois Horts foi chegando.
Daquele jeito. Ela me deu um abraço e “definimos” o destino do dia. Fomos ao
primeiro andar... pegar o leão, falar com a equipe e ir para o quartinho. Talita começou a se vestir. Sai para buscar
água e chamei Horts. Falei que não queria atuar, mas também não queria que ela
ficasse mal. Voltamos ao quarto. Deitei na cama e comecei a observar as meninas
se arrumando. Horts colocou uma música para mim e começou a dançar.
Sem que elas percebessem, tinham encontrado a primeira paciente
do dia. Sem nenhum sintoma de dor de barriga ou cirurgia marcada para tirar
parte do intestino ou fígado ou trocar a valva do coração, mas com o olhar mais
triste e perdido do mundo...
Tem sido assim por algum tempo. Vou colecionando coisinhas
que me fazem triste. Como poderia atuar estando assim.
A música é muito
conhecida por todos, mas eu já tinha esquecido... É uma canção de ninar para
nosso medo. E um dos trechos ela fala que esquecemos a cor que tinha o céu. Que
estava esquecendo o quanto Lisbela me faz bem, do quanto sou feliz quando estou
sorrindo, do quanto sou também responsável por subir o jogo da minha melhor
companheira do mundo. É como a poesia que continua a mesma, mas as leituras,
assim como a gente, vão mudando, não necessariamente um sendo consequência do
outro.
Tinha que atuar. Não por mim. Sabia que iria ser difícil
subir o nariz. Sabia que iria ser difícil chegar a 1000%.
Saímos do quartinho. Encontramos muitas pessoas. Encontramos
muitos olhares. Um senhorinha me fez muito bem. Muitos presentes. Mas não tinha
voz de Lisbela.
De volta ao quartinho a atividade “de casa”. “Que bom” que
vcs estavam lá, meninas. Talita jogou muito. Horts jogou muito. Que bom que
Miojita não desistiu. “Que ruim” aquele cheiro de fezes... afffemaria... que
ruim que “não estava inteira”. “Que tal” observar mais.
Na última reunião, Gentileza pontuou como “descobri” a voz
de Lisbela. Não ter voz era uma coisa que me angustiava muito. E essa angústia
me acompanhou durante a oficina de iniciação e a primeira de aprofundamento. Na
segunda oficina de aprofundamento foi pedido que Lisbela desse uma aula em
italiano de “como seduzir um homem”. E
foi... e do vazio, depois da fase de completo desespero, surgiu a voz de
Lisbela.
E por ela não saiu hj? Olha Ana “atrapalhando” Lisbela ou Lisbela
sendo solidária com Ana?!!
Sei que agora descobri de quem são os dois corações que
guardam a “minha máscara”...