segunda-feira, 28 de julho de 2014

Diário de Bordo - Testa das Frituras, 24/07/14



 
 _ O que tá fazendo?
_ Esperando o tempo passar.
_ Mas, esperaê, de quanto em quanto tempo o tem passa?
_ Ah, o tempo passa a cada minuto, na verdade a cada segundo.
_ Então quer dizer que o tempo já passou aqui, agora, nestante?
_ Como que a gente faz para encontrar com o tempo, a gente pode pegar nele?
_ O tempo é uma coisa que passa muito rápido, quando pensa que não, ele já se foi. Ainda não consegui uma forma de segurar ele.
[...]
Neste diálogo desta última quinta entre nós (eu, Bartolomeu Barbudo e Chiquita Pequena Sombra) e uma senhora que guardava as portas do nobre aposento de seu pai, me fez refletir o quanto nós como clowns interferimos neste tempo daquele que está ali no ambiente hospitalar e também no nosso, enquanto acadêmicos. Aquele tempo que uma ora aprisionou-se e parece não sair do lugar, ora correu e nós nem sentimos, nem menos encontramos aquele que está ao nosso lado, no ônibus, sala de aula, em casa.

"És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo, tempo, tempo, tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo, tempo, tempo, tempo


Ainda assim acredito Ser possível reunirmo-nos
Tempo, tempo, tempo, tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo, tempo, tempo, tempo

Portanto, peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo, tempo, tempo, tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo, tempo, tempo, tempo"
                                   Caetano Veloso

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Frufruta Doce - Hospital Dom Malan - 18/07/2014

 Um novo percurso pra mesma viagem incrível a bordo de um nariz. Viver uma nova experiência ao lado de dois grandes companheiros fez dessa tarde ainda mais especial!
 Minha doce Frufrura se reinventou essa tarde, rindo com Esperança e ainda com Pouca Janta... Mas tudo bem! Ainda era de tarde!
 Tudo cheirava a novidade. Desde um camarim apertado aconchegante até a energia dos jogos. Éramos escrachados, cuidadosos, sem vergonha, carinhosos, brincalhões. Passávamos com leveza entre corredores, escapulindo em quartos, nos deparando com o mais variado tipo dessa espécie que se chama gente!
 Tinha gente bem, mas bem pequenina! Uma delas estava até tomando banho-de-sol artificial, logo suspeitamos que ela era uma flor pequena que precisava de fotossíntese para crescer, que ela era uma rosa. E pasmem... Não é que acertamos em cheio?! A mamãe roseira nos falou que o nome da menina era realmente Rosa! Incrível!
 Tinha também gente muito sedutora pelos corredores.
 Tinha gente que tentavam nos enganar dizendo que havia engolido um tal de uma semente, mas a gente já tava sabendo que aquilo era safadeza...rsrs
 Tinha gente encantada pela bunda do Esperança!!
 Poizé! Os mistérios por trás daquela sambacanção despertaram muuuitas admiradoras...
 Tinha gente que gostava de competir uma luta de danças ali mesmo, no corredor. 
 Tinha gente que descobriu entre caretas que abraçar a mãe faz bem, que mau humor só impede de vermos coisas lindas que acontecem do nosso lado, como um abraço cheio de amor!
 Tinha gente também que não queria saber da gente, que parece não enxergar que a beleza de um sorriso sincero é que faz a saúde ser cuidado! Mas são essas pessoas que merecem o nosso maior cuidado, para livrá-las de uma correnteza de mágoas e preocupações. Para deixar olhar delas mais leve e que o compromisso de cuidar possa dar flores no seu rosto em forma de sorriso.
 Mas como o diálogo tava meio difícil, deixamos o seguinte recadinho:
 "Um sorriso muda um dia!
  Um xero!"
 Ó, que carinhoso!
 Acho que consegui escrever um pouco sobre as bolhas da sabão que estouravam em minha barriga fazendo cócegas na minh'alma..
 Bem, por hoje é só! E eu, Frufruta Doce, me despeço agradecendo aos melhores companheiros do mundo!
 Fico por aqui com gosto de que quero visitar vocês de novo! 

Frufruta Doce - HUT - 01/07/20014

 Se jogar no vazio, pular no infinito, mergulhar no escuro...
 Opa, mas olha que esse escuro tem muitos pontinhos brilhantes!  Brilho que ilumina dias como esse...
 Pode? Pode! Mas como assim? Sem nariz gordinho?... É!
 Mas tem nariz de tinta!

 Mesmo porque nossa identidade não se esconde atrás de uma máscara, ela se revela! 
 Então vamos! As três. Aventurar-se. Mais mostradas do que escondidas! Mas é claro, usávamos roupas...
Frufruta, Tempestade e Carnaval

 Lindas por sinal!
 No primeiro mergulho nos deparamos com um senhor que não gostava de fazer as coisas como todo mundo. Ele gostava de deitar no chão do corredor... Poizé! Ele parecia meio triste, e parecia descontar essa tristeza nele mesmo, se machucando. Queríamos brincar, fazê-lo esquecer e poder sorrir. Mas a mágoa nos olhos atrapalha a visão. Acho que por isso que ele não quis brincar. Porque não via o quanto faz bem...
 E enquanto tentávamos levantar o jogo do senhor tristinho, havia um par de olhos curiosos que tinha uma altura menor do que o habitual... Tinha uma criança, logo ali, doida pra brincar com a gente!
 Seguimos o jogo e fomos bater um papo com o pequeno... Sim, era um menino meio tímido, que enchemos de perguntas. Como a energia de uma criança faz o jogo virar! Nos deu energia pra criar lindos jogos naquela noite!
 Carnaval foi a Carnaval como ela é, azeda e linda! Eu  estava com bastante energia, muito feliz! E a Tempestade foi doce, e acabou casando com um rapaz qua havia aceitado ela com nariz de tinta, mesmo!
 Mas como a Tempestade tava encucada com sua diferença, fomos procurar por um médico de nariz. Pense numa procura engraçada! A gente ria muito, e quando Tempestade falou que estava rindo muito um estalo se acendeu na minha cabeça!
 Fiz uma conta assim: 

 Médico de nariz = Otorrinolaringologista = Otorrino
 "Eu tô rindo" = Ô tô rino
 Médico de nariz + risadas = Otorrino!

 Claro! Como que não percebemos antes que quem curava o nariz era a risada!
 Mas a essa altura nem precisava mais, já estávamos tão bem e tão felizes que só nos restava compartilhar esse cálculo estranho com os profissionais de saúde por perto. Acabamos rindo bastante!
 Eu, Frufruta Doce, me despeço - mas só por enquanto! - agradecendo as melhores companheiras do mundo!



 Fico por aqui com gosto de quero mais! 

Frufruta Doce - HUT - 10/06/2014

  Uma noite cheia de encontros e reencontros. Assim, fomos nós duas, Frufruta e Lupita, juntas mergulhando no vazio!



  Reencontramos uma mulher, que de tantos reencontros já virou amiga de longa data. Inclusive ela teve sua festa de aniversário ali mesmo, naquele quarto, como nos denunciavam os balões de festa. Pena que ela não nos covidou pra comer bolo... E nem o marido dela, com o qual falamos pelo celular uma vez, nos trouxe o refrigerante prometido... Mas tudo bem, combinamos de fazer uma grande festa juntos depois!
  De uma festa pra outra, em outro quarto resolvi ensinar a dança da areia quente pra uma senhora que não podia dançar as danças convencionais. Ela prometeu tentar depois, mas sem queimar o pé na areia, pulando de um pé pra outro!
  Bem, falamos com nosso amigo de sempre. Um moço muito bonito que sempre fica numa sala cheia de janela... Ele as vezes parece ocupado, mas sempre está disponível prae nossas docuras e sapequices! E não é que passeando pelos corredores tivemos uma agradável surpresa! Um homem de verde que sempre finje que nós somos invisíveis não só nos enxergou hoje, como também se escondeu para nos dar um susto... Toin-oin-oin quase teve um troço!
  O moço de verde ter nos enxergado foi uma surpresa e tanto! Nos deixou muito felizes... Ainda procuramos o caminho da comida, depois Lupita foi paquerada pelo moço do charme e um amigo dele ( ela num gostou muito não! ), mas o melhor da noite com certeza foi ter encontrado um menino lindo com uma história cheia de aventuras!
  Ele tava bem dodói porque um pitbull ( que eu não sei o que é, mas parece bem assustador ) queria brincar de morder o menino! Vê se pode!?.. Então a irmã corajosa e ajuizada desse menino o salvou a tempo. A tempo dele vir brincar com a gente e encher nossa noite com seu brilho nos olhos.
  Brincamos de cantar músicas e, no quarto, o senhor ao lado, que também gostou da gente, interpretava o gavião da música e tentava ser bem assustador... Mas o menino, que não era bobo nem nada, já havia enfrentado um pitbull!!! Então ele não se assustava mais com qualquer coisa, e ria muito com o gavião. A risada sincera preenchia minha jarra que quase se partiu junto com meu coração na hora de recomeçar nosso jogo em outro lugar!
  Bem, eu, Frufruta Doce, me despeço - só por enquanto! - agradecendo a melhor companheira do mundo!
  Fico por aqui com gosto de que quero mais!

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Teka Aquarela - Atuação no HU - 15/07/2014

Lembro-me que neste dia, carreguei a roupa de Teka na mochila, sem saber ao certo se seria possível atuar. Com Mariqueta temporariamente aposentada, Teka estava sem dupla por algum tempo.Então, com a vontade de ir ao hospital e participar de algo, fui com a intenção de poder observar o outro grupo. Sabe aquela coisa que fica martelando na sua cabeça? Foi assim na hora de arrumar a mochila: eu não sabia se levaria-ou não- a roupa de Teka. ‘Mas vai que dá certo?”, pensei; embora convencida de que não faria nada além do que observar hoje. No entanto, para minha surpresa, não foi desta vez que eu teria minha segunda experiência como observador. 

Pela primeira vez, Teka Aquarela e Creusa Carnaval se encontraram para atuar, e juntamente como Lupita, a noite foi repleta de magia e de surpresas. Foi um estilo novo de atuar, e apesar do horário e da quantidade de pessoas dormindo, conseguimos dá uma passadinha em todos os quartos do andar. A palavras do dia seria “diferente”. Diferente em atuar em 3 em vez de dupla, atuar alguém que nunca atuei antes, atuar em um andar que não tinha atuado antes.Um clima diferente.

Apesar dos tropeços desajeitados de 3 vozes querendo falar ao mesmo tempo e se embolarem, mas claro, como se tudo fosse parte do jogo, conseguimos arrancar sorrisos e muitos olhares. Conhecemos a Barbie, eu ganhei meu lenço da Minnie, e em breve, todas nós seríamos convidadas para a festa com o bolo do Mickey. 

Ainda atuamos em um quarto onde um certo membro de UPI estava presente, não como clown. O divertido foi descobrir que Creusa tinha cara de vilã figurante, Lupita, de garota boazinha da novela, e Teka, a amiga da garota boazinha. Não só isto, descobrimos que além de ser a vilã figurante, Creusa ainda saiu escondendo os cabelos perdidos do andar. Na verdade, cabelos, vozes, foi um dia de “achados e perdidos” do andar. Mas a grande questão da noite foi como se faz para plantar a semente da uva sem caroço?



terça-feira, 22 de julho de 2014

Dom Malan - 02/07/1014 - Pedrinho Palito

Eita as coisas tão ficando séria... Depois de algum tempo fungindo finalmente chega o dia em que eu e Dalila iamos atuar sozinhos "/  coração a mil visse. Na minha cabeça tava assim: "e se não der certo?","se não tivermos prontos?","se alguma coisa der errado"... não tinha mais porque fugir né? Ja estamos bem crescidinhos pra sair andando sozinhos ;D Antes de entrar no hospital tive uma aventura enorme de andar de moto com Dalila, sem ela saber andar pelo centro kkkkk fomos pegar a maquiagem, mas que Hospital era aquele? Tava lotado de gente e olha que so passamos em frente, coração acelerou mais e mais.
Entrando no estabelecimento percebemos que estava mais cheio o.O pra aliviar um pouco a tensao fomos beber água e averiguar o quão estava cheio, suposições confirmadas, não tinhamos mais o que fazer se não por as mãos a obra... Creio que já falei aqui a minha dificuldade com maquiagem, pois por incrível que pareça nesse dia me arrumei tão rápido e fiz a maquiagem perfeitamente e rápido, estranho né. Coisa boa vinha por ai, ja começa a sentir isso, e estava crescendo essa energia.. pronto, estou em ponto de bala.
Começemos,,, Só PedrinhoP e MagaliM naquele corredor enorme, de repente alguem fala: CUIDADO, ta molhado ai, estavamos tão tensos que nem vimos a placa kkkk, pois bem, a mulher da limpeza dizia que sentia minha falta, que nunca mais eu tinha aparecido; mas eu tinha acabado de chegar sabe, fiquei sem entender. Por tentarmos descobrir quem molhava aquele chão, surge a mulher da bebê que assume o crime e sai andando numa boa. Ja estavamos bem familiarizado com o loca, revíamos alguns profissionais e pacientes que ainda permaneciam ali. Confesso até que quando vi Sofis eu falei um pouco mais alto :3
No encontros do dia destaco a Supestar Clara que apesar de ser novinha, só vive em área VIP; o menino que estava sozinho com meninas, quando alguém aparece e diz: "é lindo né!", uhum, "não ele você", nossa tem alguem dando em cima de mim,,, a primeira vez que entramos na brinquedoteca ;D e o desabafo das mulheres que fizeram o "favor" de ir atras da gente pra todo canto que ia u.u era dando em cima, quebrando jogo, tirando foto, entrando em jogo de outras pessoas...Pois é creio que algo mudou nelas nesse dia, apesar de parecer comum ja pra elas esse tipo de ação, pois comentou da vez de um outro clown que a desafiou e que ele era chato, kkk. OK, já tava de bom tamanho a atuação e elas ali no nosso pé, Pra onde correríamos? O que faríamos? ÓR, E AGORA, QUEM PODERÁ NOS DEFENDER? pois é, ninguém, estavamos só nós ali M.M e P.P finalizando mais um atuação.

Bartolomeu Barbudo - Atuações HUT 4/07 e 11/07/2014

As minhas últimas duas atuações exigiram bastante de mim. Curioso que foi só depois de falar o quanto confio no meu clown que eu tive que exercer essa confiança ativamente. Não foi só me jogar e ver o que vai acontecer, foi querer me jogar e confiar, e ver depois o que iria acontecer. Foi o frio na barriga, o medo de dar errado, o medo de não conseguir fazer o meu trabalho. Durante toda a preparação eu fiquei pensando no meu diário, lembrei que eu admiti pra mim mesmo e aqui no blog que eu confio no Bartolomeu.

E como a Teka Aquarela falou em um diário dela, a parte boa de escrever um diário depois de tanto tempo é que eu consegui destacar com mais facilidade o que foi importante, o que marcou, e qual é o meu papel como clown. Sim, estas duas últimas atuações foram marcantes pra mim, eu acho que foram bem definidoras do meu clown, e talvez por isso eu precisei parar um pouco, me afastar, avaliar, e escrever o diário.

A primeira atuação que quero comentar me marcou porque a confiança no clown vale a pena. Foi uma atuação bastante divertida, com Testa das Frituras, que, no final, me fez pensar no papel social do clown dentro do hospital: além de fazer brincadeiras, ressignificar coisas e tentar aliviar o ambiente hostil que é o hospital, eu acho que um dos principais papéis que podemos fazer é o de ouvir.

No hospital, a vida pessoal é deixada de lado, os dramas, dilemas, alegrias e relações parecem ter menos importância que a doença que traz a pessoa, a doença que mobiliza a família. E parece que é só isso que existe: a doença, a dor. Quem somos é deixado de lado, seja a paciente, seja a acompanhante, seja a funcionária do hospital. E claro, dar conta da doença já é um trabalho muito grande, existem muitos protocolos a ser seguidos, mas a gente é gente e precisa de atenção, de carinho. É bom ter com quem conversar. E o bom da clown é que a clown não julga, a clown não faz cara feia e nem recrimina. A clown ouve e está junto. E eu gosto da liberdade que as pessoas sentem de conversar com a clown. Inclusive sobre sexo. Conversar safadeza é muito bom, é divertido, afinal de contas, todo mundo sente tesão. Não importa quem, seja rica ou pobre, da Paraíba ou da Rússia, todo mundo tem desejo. Super natural. E sabe quem tem desejo também? Idosas. Não é porque envelhece que deixa de ser humana, que deixa de gostar de conversar sobre isso, que deixa de gostar de sexo. Eu gosto quando as pessoas sentem liberdade de conversar isso com a gente, eu acho que deveríamos tratar a sexualidade da idosa com mais naturalidade. Isso aconteceu poucas vezes, mas fico feliz que tenha acontecido.

Apesar da maior parte da noite ter sido bastante divertida, o que marcou mais esta atuação foi a dor. Um dos pacientes do andar faleceu uns 15 minutos depois de termos saído do seu quarto. Eu e Testa estávamos nos preparando para finalizar quando vimos a grande comoção no corredor, gente correndo prum lado e pro outro. A filha do paciente, uma mulher que eu adorei conhecer, estava em prantos. Aquela mulher, forte, que quando chegamos no quarto, a vimos dando suporte a outras pessoas de um leito vizinho. Ela conversou muito conosco, nos falou sobre sua vida, seus dilemas e problemas, e que mesmo assim ela não baixava a cabeça, enfrentava o que aparecesse, estava bem-humorada, e me fez muito bem, me divertiu muito também. Como imaginar que em tão pouco tempo as coisas pudessem mudar tanto? Aquela mulher, que estava alegre em um momento, estava desconsolada no seguinte... Tinha muita gente perto dela, tentando ajudar: enfermeiras, acompanhantes de outros quartos. Eu quis chegar perto, quis consolar, mas nas minhas limitações, e não havia nada que eu pudesse fazer naquele momento. Tem horas que não existe outra coisa a fazer a não ser sentir a dor. Ficamos alguns momentos de longe, observando, tentando mostrar empatia e solidariedade, mas não senti liberdade como clown de me aproximar. Saímos, fechamos a atuação e fomos embora. Foi a primeira vez que eu vi a morte de perto na UPI e como estudante de medicina.

A atuação da semana seguinte me marcou por outros motivos. Eu ainda estava abalado dos eventos da semana anterior, mas eu confio no Bartolomeu e fui me preparar novamente. E nesta vez, éramos eu, Testa das Frituras e Pietra Fofolete. Eu não estava bem para atuar, não consegui juntar energia o suficiente pra subir o nariz, mas estávamos também com Jamaisvista de Listras e Catarina Polenta, todas juntas pra subir o nariz, e eu não quis abandonar minhas companheiras. E foi muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, me lembrei de vários pontos da formação, entrei em conflito, a música tocando, eu sentia a energia das minhas companheiras e me sentia vazio, mas decidi subir o nariz. Puxei toda a minha confiança no Bartolomeu, e esse foi meu estopim pra subir a máscara. Durante toda a atuação eu me senti muito como no Abraço Grátis, muito self-concious, ciente de mim mesmo, saía do estado de clown com frequência, eu só queria terminar e sair dali. Mas eu não podia nem queria abandonar meus companheiros. E um fato chave do final foi ouvir do Thiago que aquela tinha sido uma das melhores atuações dele, e falou os motivos pelos quais ele tinha achado isso. Eu fiquei muito feliz por ele, e por poder compartilhar isso, mas isso me provocou muitas reflexões também. Será que eu estou tão dissociado assim do meu clown? Será que somos tão diferentes assim, pra eu ter vivido e sentido uma coisa na minha cabeça e ter transmitido outra totalmente diferente durante a atuação? O que será que isso significa e que efeitos isso tem pra mim na UPI, na minha vida acadêmica e pessoal? Por um lado, eu acho bastante natural que em uma rotina de atuações semanais, eventualmente haverão atuações que não vamos nos sentir bem, que serão ruins pra gente, que estaremos com pouca energia pra encher a jarra das companheiras e que o importante é não desistir, que temos que perseverar mesmo e não abandonar o projeto. Por outro lado, eu sinto que fazer isso foi um profundo desrespeito com o que o Bartolomeu Barbudo significa para mim. Subir o nariz com a energia baixa foi uma decisão ponderada, mas foi bastante negativa. Guardei mais uma lição pra mim na vida de clown, não sei ainda como avaliar o resultado disso tudo.




PS: neste diário, uso o gênero feminino como neutro para chamar atenção ao sexismo da língua portuguesa.

Vivi Manteiguinha - 7ª Atuação no HU - 19/07/2014

Diferente. Acho que isso resumiu minha atuação. Atuar sem minha companheira de todos os sábados; estar acostumada com nossa dinâmica, nossos jogos, me fez ficar um pouco perdida e acomodada no jogo. Mas isso não impediu que eu me divertisse e que a atuação me marcasse de alguma forma. Me fizesse refletir, aprender com os diferentes jogos de cada um. Assistir e ao mesmo tempo interagir com a energia contagiante de Carmelita das Buchadas e a paciência e conhecimento de Rosinha da Alturas. Esse conhecimento só faz de Vivi Manteiguinha uma clown mais completa. 

Vivi Manteiguinha - 6ª Atuação no HU - 12/07/2014

"Saudade tem rosto, nome e sobrenome. Saudade tem cheiro, tem gosto. Saudade é a vontade que não passa. É a ausência que incomoda. Saudade é a prova de que tudo valeu a pena...". A minha saudade naqueles dias tinha vários rostos, vários nomes e um endereço muito certo. Era uma vontade de atuar que não passava e que incomodava. A UPI e o sorriso de todas aquelas pessoas era a prova de que tudo valia a pena. Colocar minha roupa de clown, minha maquiagem e subir a máscara; como eu estava com saudade daquilo tudo. Como eu estava com saudade de ver Vivi Manteiguinha em ação; de atuar com minha melhor companheira do mundo Cassandra Paçoca. De tentar levar a alegria para aqueles que estavam no 3º andar do Traumas. É gratificante receber o sorriso de uma criança, de ouvir que sua presença ali diminui a dor que esta sentindo. De ouvir que sua ausência por algumas semanas foi sentida; isso só completa cada vez mais minha jarra. Ao final da atuação eu e Mari Mari nos sentíamos mais leves, mas vinha em nossa mente o desejo de renovar, de aprender mais, de que mais ainda era necessário.

Marieta Nariguda - HUT - 18/07/2014

        Eeeita diário há quanto tempo sem escrever, há quanto tempo sem atuar também.... confesso que Marieta estava fazendo uma falta enorme, mas eu e meus companheiros estávamos tendo problemas com os compromissos diários estarem chocando com o nosso dia no HUT, mas faremos de tudo pra que isso não se repita, afinal não são apenas os pacientes e acompanhantes que precisam de nós, a necessidade de atuar também nos atinge todos os dias, saudades de ouvir histórias, fazer jogos, se emocionar, sorrir, receber lindos olhares, enfim é tanto coisa que faz falta, que poderia passar horas aqui só escrevendo sobre isso.
       Mas finalmente conseguimos atuar de novo, e logo notamos que nesse tempo que nos ausentamos muita coisa havia mudado, novos funcionários, e o movimento de pessoas tinha aumentado bastante, o que trouxe algumas dificuldades. Primeiro tivemos que nos arrumar com o entra e sai de gente no quarto, depois esperar o pessoal sair para conseguirmos subir a energia,  mas nada disso nos impediu de sair cheios de vontade para descobrir o que nos aguardava naqueles quartos e corredores.
        Uma coisa que nunca vou me cansar é de ver o rostinho e os olhos surpresos das pessoas quando dão de cara conosco, é muito bom, é o que faz sua energia subir ainda mas e querer se aproximar daquela pessoa, e assim fizemos nos aproximamos e ali começaria nosso primeiro jogo. E logo no primeiro quarto que entramos encontramos uma senhora cheinha de vontade de desabafar, de ter alguém com quem compartilhar suas dores, o descaso que fizeram com o seu filho que estava no quarto quietinho, um moço de poucas palavras, mas a sua mãe falava por eles dois.
        Ali nesse mesmo quarto eu senti o quanto essas pessoas precisam do nosso trabalho, aquela senhora só queria ter alguém que parasse um segundo do seu dia e a ouvisse, e ela falou tudo que estava guardado naquele coraçãozinho angustiado, dos longos dias de solidão, e de sofrimento, e nos agradeceu muito, com toda sua simplicidade e sinceridade por termos passado um tempo ali com os olhos atentos e o coração aberto para ouvi-la.
        O nosso próximo encontro foi com um rapaz que desfilava com um vestido azul, mas ele apenas passou no quarto e foi tirar o seu figurino que segundo ele poderia causar muita polêmica. Mas logo ali na frente nos reencontraríamos com ele, e outro rapaz que se dizia balconista de farmácia mas pra mim ele era um comediante e tanto, rimos com as graças dele, e com sua coragem de ter enfrentado o poste com sua moto para saber quem era mais forte, resultado o poste quebrou as duas pernas dele, e apesar de ter perdido desafiou Sancho a pular do terceiro andar pra ver quem caia primeiro no chão, pense num moço maluquinho.
        Em seguida encontramos uma senhora e seu filho no quarto, ela também precisava conversar como a maioria das pessoas ali precisa, era nítido o cuidado que ela tinha com seu filho, e o carinho existia entre eles, apesar de todas as dificuldades eles tinham muito que agradecer, aquele moço tinha escapado de um grave acidente, um história linda de sobrevivência que nos dá um incentivo ainda maior pra valorizarmos nossas vidas e as pessoas que amamos.
        No outro quarto havia um pequenino que tinha acabado de vir de uma cirurgia, confesso que era quase impossível não se encantar com o seu jeitinho cheio de doçura, seu sorriso apesar de tímido era de uma sinceridade incrível, e seu relacionamento com a sua mãe também eram de uma lindeza sem fim. Para minha surpresa ao entrarmos no quartinho para nos trocarmos,  Fabinho  contou para mim e Dan que esse pequenino teria que amputar um ou dois dedos da mão, que necrosaram, nós já sabíamos que ele tinha sofrido um acidente sério devido a bomba que estourou na sua mão, mas desconhecíamos esse detalhe.
      Confesso que esse último fato me deixou bem triste, por ele ser criança e sempre que vejo alguma criança passando por uma situação delicada penso que poderia ser a minha irmã ali naquela mesma situação, só espero que ele saiba lidar com a situação com toda a sua doçura, porque não tenho duvidas que apesar de tudo ele ainda terá muitos momentos de alegria em que aquele mesmo sorriso tímido poderá reaparecer e encantar a todos que tem a oportunidade de recebe-lo.
      
 

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Lupita Toin-oin-oin - HUT - 15/07/2014

Mais uma atuação… e te digo que estava morrendo de saudades de atuar, entre tantos feriados e jogos do Brasil, faz um mês que já não curtiu e vivia tantos encontros. E as minhas parceiras de hoje foram Creuza Carnaval e Teka Aquarela. Começamos embaladas ao som de Shakira, dando início a festa! E fomos atrás de outros embalos. No primeiro quarto entramos ao ritmo de uma valsa clássica ao nos depararmos com uma atriz que estava fazendo o papel de princesa, na verdade a bela adormecida, já que ela adorava ficar deitada. Para o papel ficar completo lançamos a proposta de achar um príncipe para ela, alguém que fosse muito especial, tanto quanto ou mais que a nossa princesa, mas ainda não achamos, e desconfio se ele existe mesmo. Ao entrar no próximo quarto, perguntamos o que queriam por ali, como fadas madrinhas: quais os desejos? E então a mãe nos pediu a voz do seu filho que havia sumido. Iríamos atrás dessa voz, e começamos a pedir mais detalhes, não daríamos qualquer uma. Então a mãe nos disse que era uma voz de 22 anos, nem grossa, nem fina, e uma voz masculina. E daí, começamos a nossa busca. Ao entrar no próximo quarto e procurar pela voz, soubemos que mais outro menino tinha sido levado a voz e um lado (que estava esquecido), segundo a mãe. E então contamos a ela da suspeita de ali estar havendo um roubo em massa de vozes, e para uma outra mãe que estava ao lado falamos para ela cuidar bem da voz do filho que estava a falar no telefone. No quarto posterior, eis que encontramos um rapaz cuja voz soava bastante grave, ele tinha 22 anos e então começamos a suspeitar tivesse sido ele o ladrão da voz... conversa vai e conversa vem, ele nos confirmou o roubo, e então ficamos sem saber como arrancar essa voz dele. Ficamos lá a enrolar, mas nenhuma ideia surgiu. Entre tantas conversas, descobrimos que naquele quarto também havia tido roubos de cabelo... e as vítimas logo suspeitaram de Creuza, pelo seu lindo e liso cabelo (digno de vilã global, segundo uma das vítimas). E depois de um certo tempo de conversa saímos porque lá chegou um doutor que queria colocar um supositório na gente já que não estava rindo, dizendo que estávamos constipadas já que tínhamos negado estar de TPM. Vê se pode uma coisa dessa??
No próximo quarto encontramos um garotinho que relutava e reclamava para tomar injeção... e então ele nos contou que no seu aniversário o Mickey estava no seu bolo. Falamos pra ele que conhecíamos sim o Mickey, apesar de ele não acreditar. E inclusive até mostrei pra ele o lenço de Teka, que tinha sido presente da Minnie, e ele continuou não acreditando. E deixamos a história pra lá. Mas ameaçamos ele dizendo que se não tomasse o remédio, o Mickey não mais apareceria no seu bolo, e ele começou a ficar pensativo. Depois que saímos do quarto dele, mesmo assim ele continuou a nos seguir, e interagimos bastante no corredor. E por fim conhecemos uma senhora muito simpática que podia estar em muitos lugares ao mesmo tempo, e ela era um amor de pessoa.

Mais uma noite encantadora, mais uma atuação rica em emoções... E um bem querer toma posse de mim... Vontade de encontrar e ser encontrada... Vontade de seduzir e ser seduzida... Vontade de olhar e ser olhada... Vontade de dar e receber atenção... Vontade de tudo de bom... E agora só a espera de uma nova noite cheia de magias e bons sentimentos. 

Esperança Sambacanção - Dom Malan - 18 de Julho de 2014.



“Um sorriso pode mudar seu dia. Um xero” 
       Dizia mais ou menos assim o recado que deixamos no balcão da enfermeira da oncologia. O clima do lugar estava pesado, as duas profissionais responsáveis por aquela área estavam claramente cansadas e sobrecarregadas, o dia parecia ter sido cheio e dentre tantos problemas nossa presença ali parecia inútil, ninguém me olhava nos olhos por mais que eu buscasse, e pareciam ter coisas mais importantes pra se dá atenção do que a palhaços que fazem mímica e animam crianças.
        O foco não era a gente, o foco não era o amor, ou o encontro que estávamos propondo ali. Foi difícil pra mim, foi difícil voltar aquele lugar que outrora me desestruturou tanto, e mais uma vez voltar mal recebido. Gled, mais do que Esperança, parece um pouco com Renato Russo quando ele canta: “Sempre precisei de um pouco de atenção...” chegar e não ser visto, mesmo que eu esteja com um nariz vermelho, lag verde e samba canção, me dói. É duro pra mim. Mas talvez uma terapia me ajude...
       Mesmo não sendo visto, eu e minhas companheiros procuramos enxergar; fizemos nosso recado, correndo pra não ser visto, e saímos dali. Plantamos nossa semente, só que não sabemos se irão regar ou se irão colher, essa parte não nos diz respeito. É preciso aceitar o ritmo de vida de cada um, é preciso ter cuidado com a história do outro e tudo que ele carrega. Cuidado, cuidado, cuidar... Sinceramente achei que era mais fácil.
       A Frufruta (Jully), que esteve conosco nesse momento, só quero pedir uma coisa; mantém a essência do teu nome, amadurece sem perder tua essência, não deixa de levem o Doce de Frufruta embora, e olha, vão tentar viu? Boa sorte pra você, boa sorte gente.

Núcleo do dia: “Telegrama, dizendo nego sinta-se feliz.”

Esperança Sambacanção - Dom Malan – 4 de Julho



O·lhar
1. Dirigir a vista.
2. Fazer por ver.
3. Encarar, considerar.
4. Estar voltado.
5. Estar fronteiro.
6. Fitar os olhos em; ver; encarar.
7. Contemplar.
8. Cuidar de.
9. Exercer vigilância ou cuidado sobre.
10. Observar; notar.
11. Ponderar; atender.
12. Verificar com o dedo se a galinha está para pôr ovo.
13. .Ato de olhar.
14. Modo de olhar.
15. .Aspecto dos olhos.

            Tantas definições mas nenhuma define, encontrei com o olhar de uma criança nessa atuação, e foi um olhar que provavelmente eu leve por muito tempo em mim, o aparelho que ela tinha na garganta não a possibilitava falar, e se naquele dia a única forma de se comunicar era através do olhar, pra mim que ela era especialista nisso.
               Como dizem os barbudos “Clareia a minha vida, amor, no olhar..” ela clareou, me iluminou, me acendeu, jogamos um jogo pequeno, mas lindo de se ver, e ela agradeceu da melhor forma que ela podia, com um olhar, fundo e brilhante, (aquele, típico de gente pequena, de gente ainda pura) o sorriso também não era de ficar pra trás, era branco e grande, e combinava perfeitamente com a toalha cor de rosa que colocamos enrolada nela, pra se fazer de um vestido de festa, ela estava linda e iluminada, até o sol concordaria.
               Rosinha dos retalhos (nossa San), que naquela atuação deu o ar de sua graça, nos ajudou como uma boa monitora que ela é, nos mostrou aquela coisa de jogar pequeno e de fazer o simples - de que a gente tanto fala - plantou a semente dela em mim, e por mais difícil ou complicado que me pareça, eu espero sinceramente vê-la flores-ser. Porque o bem, pra gente fazer, antes a gente precisa receber.

“Pois é de Deus tudo aquilo que não se pode ver...” (L.H.)                                       
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